A mudança na cesta básica é somente um passo para estimular a mudança dos hábitos alimentares
Começamos março com uma excelente notícia: o governo federal publicou o decreto que cria a “nova cesta básica”. Esse decreto faz parte de um pacote de ações direcionadas à segurança alimentar e combate à fome. A grande mudança na cesta básica está em sua composição. Os alimentos ultraprocessados serão substituídos por alimentos in natura e minimamente processados, além de ingredientes culinários como especiarias. Maravilhoso, né? Mas ainda não acordamos de sonhos intranquilos, como disse Kafka (e não Kafta).
É preciso ter em mente que a mudança na composição da cesta básica é somente um passo para estimular a mudança dos hábitos alimentares no Brasil. Vivemos em um país em que a maioria da população não sabe diferenciar alimentos ultraprocessados de alimentos processados, minimamente processados ou in natura. Os alimentos ultraprocessados – aqueles cheios de ingredientes conhecidos e desconhecidos no rótulo – chegaram em nossas mesas e mal tivemos o direito de saber de verdade o que estávamos consumindo. Boa parte da população brasileira, tenho certeza, que ainda continua achando que “Danoninho vale por um bifinho”.
Não podemos alimentar nossos carneirinhos da ingenuidade, achando que a cegueira induzida produzirá visão para aqueles que nem sequer foram educados a ler. Nesse caso, os rótulos. O resultado dessa má educação está somatizada no corpo. Nossas crianças e adultos estão cada vez mais obesos, colesteróis cada mais elevados e diabetes cada vez mais frequente. O alto consumo de ultraprocessados colocou o corpo em um estado permanente de guerra. Em nossos mundos contemporâneos, as normas corporais da obesidade se multiplicaram de uma maneira alarmante.
Propor mudanças na cesta básica é só uma parte da estratégia de combater a guerra. Em paralelo, é preciso investimento em educação alimentar, taxação de ultraprocessados e transparência na informação sobre o que estamos comendo. Mesmo com novas propostas para cestas básicas, não podemos esquecer que o consumo de ultraprocessados não irá diminuir por conta disso. Campanhas de conscientização sobre os perigos do consumo diário desses “alimentos” deveriam estar no mesmo patamar que as campanhas contra o tabagismo tiveram nos tempos de outrora. Afinal, estamos lidando com coisas cheias de açúcar, sal e gordura, altamente viciantes e prejudiciais, que resolveram nos dizer que são comidas.
Edição: Gabriela Amorim