Agora, iremos adentrar o território do Raso da Catarina
Começo este texto agradecendo a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus I, Salvador (BA) e Campus VI, Caetité (BA), e ao convite que recebi do Professor Doutor Elizeu Pinheiro da Cruz (da UNEB) e da Professora Doutora Iara Maria de Almeida Souza (da UFBA), para fazer parte da equipe do "Projeto Caatinga, desenvolvimento, aves e extinções: Uma etnografia de insurgências ecológicas entorno da conservação da arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari)". O Projeto conta com o apoio da Universidade do Estado da Bahia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Agora, iremos adentrar o território do Raso da Catarina. Durante uma semana, os pesquisadores responsáveis e nós, membros do Grupo de Pesquisa Antropologia Corpo e Ambiente (ACA-UNEB), percorremos quase dez localidades da região do Raso da Catarina. Com olhares atentos, anotamos o universo a nosso redor. Como o universo tem uma dimensão vasta, aqui, narrarei uma, das muitas, experiências que tivemos em campo: a comida de Dona Maria do Raso.
Conhecida como Maria do Raso, Maria Alves da Silva, 55 anos, nascida e criada no Povoado de Mucambo carrega consigo o amor pela cozinha. A fama de boa cozinheira e boa anfitriã já corria entre familiares e amigos, antes dela decidir colocar a sua comida no roteiro turístico da região. O Povoado de Raso, local em que Dona Maria vive com sua família, foi lugar de andança de Antônio Conselheiro e hoje é reconhecido como Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto. Marcado por conflitos de grilagem e tomada de território, o Povoado do Raso é, também, um local de visitação da Arara-azul-de-Lear.
Paloma, filha de Dona Maria do Raso, nos contou que ao final de 2018-2019, o turismo foi intensificado na região com a atuação do Projeto Jardins da Arara de Lear, e a propriedade da família tornou-se um Jardim de Arara. Com tanta rotatividade de pessoas, Dona Maria e Paloma decidiram fazer parte da rota turística oferecendo banquetes compostos por pratos tradicionais da região: galinha caipira, pirão de galinha, carneiro assado, bode, saladas, arroz, feijão e o mais famoso de todos eles, o arroz de licuri.
Dona Maria conta que o arroz de licuri é um prato muito antigo em Canudos e Euclides da Cunha, mas não é visto nos restaurantes da região. Foi este o motivo da escolha do prato na composição do cardápio. Especialista também na produção de licores de tamarindo, maracujá da caatinga, de geleias e compotas de frutas endêmicas, a fama de Dona de Maria foi se espalhando para os principias guias históricos de Canudos, João Batista é um deles. Hoje, ir até a região de Canudos e não passar para conhecer a comida de Maria de Raso é quase uma injustiça com o paladar.
Finalizo essa coluna, quase uma reportagem, memorando a espetacular comida de Dona Maria. Fecho os olhos por alguns instantes, mastigo lentamente o arroz cremoso de licuri guarnecido com um carneiro cozido e perfumado. Respiro, ainda com os olhos fechados, bebo o melhor suco de umbu que já experimentei na minha vida. Perfaço minha experiência saboreando a compota de umbu que explode na boca, lembrando os festejos da caatinga na época da chuva.
Obrigada, Dona Maria.
Para mais informações acessem:
Instagram de Dona Maria do Raso: @mariadoraso
Instagram do Grupo de Pesquisa Antropologia Corpo e Ambiente: @acauneb
Instagram do Projeto Jardins da Arara de Lear: @projetojardimdaararadelear
Instagram de Nayron Rebouças: @nayronreboucas.bio
Edição: Gabriela Amorim