Além dos festejos de celebração à Iemanjá, o último domingo (2) também foi marcado por protestos na capital baiana. Moradores, ambientalistas, representantes de coletivos e organizações se mobilizaram no Rio Vermelho, onde acontecem a maioria dos festejos à orixá, em defesa da praia do Buracão. Organizada pelo movimento SOS Buracão, a manifestação luta contra a especulação imobiliária que tem levado à construção de duas torres de luxo em frente à praia, também localizada no Rio Vermelho, o que pode gerar diversos impactos ambientais e sociais.
"Estamos lutando e nos posicionando contra os espigões que, por certo, farão sombra em nossa querida praia do Buracão e afetará a vida marinha, bem como o turismo em diversos aspectos. Temos muito chão pela frente e precisamos nos manter em alerta máximo em nome da praia do Buracão e dos coletivos que comungam com os mesmos ideais: a defesa da causa socioambiental.", ressaltou o presidente da Associação de Moradores da Rua Barro Vermelho, Miguel Sehbe.
O cortejo, que saiu do Barro Vermelho e seguiu até a Casa Rosa, nas imediações do Largo da Mariquita, também contou com a participação dos deputados estaduais Olívia Santana (PCdoB), Marcelino Galo (PT) e Robinson Almeida (PT); da deputada federal Lídice da Mata (PSB); e dos Vereadores Hamilton Assis (Psol) e Marta Rodrigues (PT). Também se somaram ao movimento representantes do projeto Carnaval sem Fome, realizado pela Ação da Cidadania, e representantes dos coletivos Stella Maris, Morro Ipiranga, Salve Verde e Rua Alagoinhas.
Daniel Passos, morador do Rio Vermelho, também esteve na mobilização e destaca a importância de se pensar uma política urbana que esteja de acordo com a preservação do meio ambiente.
"Os desafios que enfrentamos no movimento SOS Buracão são consequência direta da falta de políticas urbanas que harmonizem o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, cultural e social. Seguimos na expectativa de que nossas vozes sejam ouvidas e que, juntos, possamos construir um bairro que respeite sua essência enquanto avança de forma equilibrada", aponta.
Entenda
Segundo o Marco Zero, em outubro de 2023 a Prefeitura de Salvador concedeu alvarás para a empreiteira Odebrecht que autorizam a construção de dois edifícios de 15 e 16 andares, medindo aproximadamente 70 e 74 metros, na rua Barro Vermelho, em frente à praia do Buracão. Os empreendimentos, além de bloquearem a ventilação natural, também comprometem a mobilidade da área e invadem 1.700 m² de terreno de marinha, que pertence ao Patrimônio da União, lançando sombra sobre toda a extensão da praia. O sombreamento da área viola a Lei Municipal 9.148/2016, que regula o sombreamento das praias, e impacta negativamente o uso da área pública, favorecendo a proliferação de bactérias e micro-organismos.
A especialista em meio ambiente Socorro Colen aponta que as máquinas e equipamentos pesados usados na obra irão gerar poluição sonora e trepidação do solo, o que causa desequilíbrio no ambiente marinho, já que no Buracão aparecem com frequência baleias jubarte e tartarugas para desova, além de variadas espécies de peixes.
“Construir prédios altos e luxuosos às margens da praia, colados na areia, resulta em zonas de sombreamento na areia com consequente geração de doenças ocasionadas por microrganismos que, se tivessem luz solar, seriam dizimados. A areia seca contaminada por fezes de animais (cães e gatos) é capaz de transmitir parasitas e larvas, como o bicho geográfico. Ao revolver a areia e expor ao sol, eliminam-se os microrganismos. Doenças como diarreias, gastroenterites, alergias na pele, parasitoses e viroses são eliminadas pelos raios solares”, reitera.
Edição: Nathallia Fonseca