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Mineração

Mineração na Bahia é tema de encontro de pesquisadores e movimentos sociais na UFBA

Encontro iniciou nesta segunda (04) e segue até quarta-feira (06) no Instituto de Geografia da UFBA

Salvador |
Bahia tem seu I Encontro de Pesquisadores da Questão da Mineração - Helenna Castro/CPT

Organizado pelo Grupo de Pesquisa GeografAr/UFBA e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o I Encontro de Pesquisadores/as da Questão da Mineração na Bahia: diálogos interdisciplinares entre Universidades e Movimentos Sociais foi iniciado nessa segunda-feira (04) e segue até o dia 6.

Trata-se de uma iniciativa do grupo de pesquisadores do MAM em parceria com instituições, entidades e organizações populares que se colocam para a discussão crítica do modelo mineral brasileiro. Lucas Zenha, pesquisador do GeografAR e membro da comissão organizadora do evento, explica que, a nível nacional, “o MAM constrói há quase uma década o encontro de pesquisadores e pesquisadoras da mineração, que engloba centenas de pesquisadores de várias regiões, várias universidades, com temáticas multidisciplinares”.

De acordo com Valdirene Rocha, também pesquisadora do GeografAR, o objetivo do evento é “fomentar um espaço democrático para a divulgação de pesquisas científicas em consonância com as demandas dos movimentos sociais a respeito dos conflitos, desafios e contradições da mineração”. A pesquisadora aponta que há forte tendência de expansão de fronteiras da atividade no estado e aposta no encontro como um espaço para fortalecer as populações organizadas e “promover a popularização da ciência relacionada ao problema mineral na Bahia”.


Encontro reúne, além de pesquisadores, representantes de organizações populares e lideranças comunitárias / Helenna Castro/CPT

“Esse é um espaço para debater com as comunidades, universidades, profissionais da geologia e, principalmente, com os trabalhadores e trabalhadoras da mineração, que também são afetados por esse modelo mineral”, afirma Pablo Montalvão, militante do MAM.

O membro da direção nacional do movimento diz que “o principal ponto de partida [da realização do encontro] é a necessidade de compreender como se movimenta o capital mineral, que viola nossas vidas todos os dias”. De acordo com ele, o tema interessa não somente às pessoas diretamente afetadas por processos minerários no estado. “O impacto não está localizado só onde está a mina, a ferrovia, o porto ou o mineroduto, é uma contradição que atinge toda a sociedade”, acrescenta.

Debater, unir e organizar

Fabiano Paixão, membro da coordenação estadual do MAM - BA, destaca o papel da ciência para contribuir na luta das populações afetadas pela mineração na Bahia. “Estar construindo esse encontro de pesquisadores junto ao Geografar é um passo no processo de acúmulo político e de sistematização dos conhecimentos que as comunidades já têm, mas que muitas das vezes precisa ser respaldado numa perspectiva acadêmica”, afirma.


O encontro pretende divulgar as pesquisas sobre o tema realizadas na Bahia. Na foto, ao centro, Lucas Zenha, pesquisador do GeografAR / Helenna Castro/CPT

Fabiano pontua ainda que a mobilização para potencializar a valorização dos conhecimentos nas comunidades é um processo coletivo entre as comunidades, movimentos sociais e universidades.

O coordenador explica que o movimento visa não apenas denunciar o modelo mineral brasileiro, mas “construir saídas populares para o povo afetado pela mineração nos territórios em conjunto com as organizações, instituições e entidades parceiras. Em síntese, é necessário debater, unir e organizar. Esse é o único caminho para enfrentar o projeto imposto pelo Estado de forma subordinada às grandes mineradoras”.

Além de representantes de organizações populares, o encontro conta com a participação de lideranças comunitárias e juventudes que vivem na pele o problema mineral na Bahia, como Claudiana, da comunidade Itapicuru, em Jacobina. “Esse momento acontece para mostrar os reais problemas que a mineração tem causado em cada município, em cada comunidade. Para além do saque dos minérios, denunciar também que os órgãos estatais não vêm cumprindo com suas responsabilidades de proteção das comunidades frente à mineração”, afirma.

Jair Matos, militante do MAM e da coordenação do Grupo de jovens do CUC (Curaçá, Uauá e Canudos), avalia a importância do encontro: “a maior parte da juventude do campo não tem uma educação contextualizada. E a gente cresce com aquela mentalidade do ensino padrão: se formar no ensino médio e servir de mão de obra barata para grandes empresas”. Para a jovem liderança, em espaços como esse “a gente aprende muito e consegue ter uma noção política do contexto em que está”.


O evento também fez memória ao rompimento da barragem da Samarco, há nove anos, em Mariana (MG) / Helenna Castro/CPT

O evento, além de discutir o tema da questão mineral na Bahia, traz a memória dos 9 anos do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), e visa acumular forças e articulações para a construção do 2º Encontro Nacional do MAM, que será realizado no Ceará em 2025.

O “I Encontro de Pesquisadores/as da Questão da Mineração na Bahia: diálogos interdisciplinares entre Universidades e Movimentos Sociais” conta com o apoio do Fundo de Amparo à pesquisa (FAPESB), da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), além de parcerias com O IFBA, IFBAIANO, UNEB, UFRB, Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais, (AATR), IRPAA, Escola Família Agrícola de Licínio de Almeida-BA e Sociedade Brasileira de Geologia.

Edição: Gabriela Amorim