“Com tiranos não combinam brasileiros corações” é o refrão do Hino ao 2 de Julho, hino oficial da Bahia. A data é celebrada com um feriado estadual e leva às ruas da capital baiana milhares de pessoas no cortejo que reúne grupos políticos, artísticos e movimentos e organizações populares. De grande valor histórico, a manifestação reverencia a luta popular, com a participação de negros escravizados e indígenas, que expulsou as tropas portuguesas do Brasil, em 1823, consolidando a independência do país.
A tradicional festa cívica que completa 200 anos, partiu nessa terça-feira (2) do Largo da Lapinha com os carros alegóricos dos caboclos, que desfilam no Centro Histórico até o Campo Grande, onde ficam para visitação pública. Esse ano, o presidente Lula marcou presença no desfile pela manhã, que contou com grupos políticos, entidades sindicais, fanfarras escolares, filarmônicas, coletivos artísticos, indígenas e rodas de capoeira.
Na comitiva oficial, o prefeito de Salvador Bruno Reis (União Brasil), o governador Jerônimo Rodrigues (PT), além de secretários e parlamentares foram seguidos por uma multidão. Candidatos e candidatas à vereança levaram grupos de percussão e bandeiras partidárias para chamar atenção do eleitorado.
Protestos
Seguindo uma outra tradição, muitos movimentos e organizações populares aproveitaram o desfile para levar às ruas reivindicações por direitos à moradia, reparação salarial, liberdade religiosa e sexual, preservação ambiental dentre outras pautas.
O movimento LGBTQIA+ denunciou os crimes de homofobia e a fragilidade das políticas públicas para o segmento. Os coletivos SOS Buracão, do Rio Vermelho e dos moradores de Stela Maris e Abaeté denunciaram os crimes ambientais e a expansão imobiliária, que destroem o patrimônio natural na cidade e agravam a crise climática.
A Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, composta por vários grupos feministas, protestou contra o Projeto de Lei 1.904/2024 que tramita no Congresso Nacional. O PL criminaliza as vítimas de estupro ao equiparar o aborto legal após a 22a semana de gestação ao crime de homicídio. Com gritos de “Fora Lira” e “Criança não é mãe, estuprador não é pai”, as ativistas distribuíram lenços verdes e exibiram uma grande faixa com a mensagem “Nem presa, nem morta”, exigindo o imediato arquivamento do projeto.
Para a coordenadora do coletivo TamoJuntas, a advogada feminista Letícia Ferreira, o adiamento da votação do PL 1.904 foi uma pequena vitória. “Precisamos continuar na luta para que essa pauta, da descriminalização do aborto e dos direitos das mulheres, seja de toda a sociedade”, afirmou durante o cortejo.
O Coletivo Ágbara Dúdú (Poder Preto, em iorubá) desfilou com faixas exigindo maior representatividade de pretos e pretas no poder, em todas as esferas de governo e nos três poderes. A centenária Associação Protetora dos Desvalidos (SPD) e a Rota dos Quilombos se associaram ao grupo para protestar contra o racismo e por igualdade racial na disputa eleitoral em Salvador, cidade com expressiva população negra.
Os indígenas baianos também marcaram presença na festa com cânticos e manifestações em defesa da demarcação dos territórios e contra o Marco Temporal.
Edição: Gabriela Amorim