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Sul Global e o conceito de segurança: a abordagem do desenvolvimento

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O Brics, formado originalmente por cinco países, passa a contar com mais seis membros a partir de 2024 - Presidência da República
A criação desse mundo multipolar teve como reação dos Estados Unidos e seus aliados

O mundo atual assiste a uma mudança geopolítica fundamental, com a criação de uma arquitetura econômica, política e social multipolar, deixando de lado uma situação de unipolaridade caracterizada pelo domínio absoluto dos Estados Unidos na definição das agendas econômica, cultural, social, ambiental e militar. Outros países se tornam fortes e desenvolvidos economicamente, criam alianças econômicas, políticas e de segurança e forçam o planeta a ter uma geopolítica mais democrática. Um bom exemplo disso são os BRICS, que reúnem Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, que abraçaram em 1º de janeiro de 2024 outros países: Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito.

Essa mudança está provocando uma mudança no que foi definido no Tratado de Bretton Woods ao final da Segunda Guerra Mundial, que tornou o dólar a moeda do comércio internacional e criou instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, sempre com a hegemonia estadunidense. A criação desse mundo multipolar teve como reação dos Estados Unidos e seus aliados a fabricação de uma nova “Guerra Fria” contra a China e a Rússia. Os Estados Unidos também criaram uma “estratégia do caos”, levando à desestabilização ou à invasão e à destruição de países como Afeganistão, Iraque, Líbia, Venezuela e Síria. Os Estados Unidos também têm aumentado a tensão em torno da questão de Taiwan, criando uma situação de confronto artificial com a China. Também estimularam alguns países a entrar na OTAN para provocar a Rússia e tentar desestabilizar essa região do planeta que tem apresentado maiores taxas de crescimento econômico, inclusão social, desenvolvimento tecnológico e integração regional.

A “estratégia do caos” dos Estados Unidos e seus aliados toma a questão da segurança de seu país como superior à segurança dos outros países e falsifica cenários e argumentos para intervir em outras regiões. Essa estratégia tem o objetivo de estimular sua indústria, muito dependente da guerra e da produção de armamentos, ao mesmo tempo em que procura destruir as chances de desenvolvimento de outras sociedades. É uma estratégia para tentar evitar a ascensão de outros países levando instabilidade e bloqueios econômicos ou militares a outras regiões do globo. Trata-se de uma estratégia para tentar evitar a criação de um mundo multipolar com outros países tão importantes no cenário quanto os Estados Unidos.

Essa estratégia do caos, que tem por base a ideologia da segurança dos Estados Unidos e seus aliados contra todos no mundo que tenham o desejo de independência e autonomia pode levar à destruição da humanidade, tanto pela guerra quanto pela desorganização econômica. E pode levar à destruição global também pela inação frente ao grande desafio que temos hoje, a crise ambiental e climática, que exige uma atenção total de todos os povos e um programa de transição energética e ecológica com mudanças no uso dos recursos naturais, visando à diminuição da poluição.

A alternativa para os países interessados em um caminho pacífico para construir um mundo mais democrático é procurar uma cooperação do “Sul Global” e dos BRICS, buscando a Paz, a integração econômica, a integração cultural, científica e tecnológica e um amplo programa de Transição socioecológica para salvar a humanidade da destruição. Na verdade, para nós, países do BRICS e do “Sul Global”, a Paz é um “bom negócio”. A produção de armas e de guerras destrói nosso futuro e a chance de bem estar material, social e cultural. Não nos interessa uma máquina de guerra que consome recursos valiosos, que deveriam ser direcionados para acabar com a fome e a miséria, para construir nossas cidades, promover a inclusão social, criar universidades, mudar a matriz energética da nossa civilização.

Propomos o estreitamento da aliança das nações do Sul Global, para criar as condições dessa integração, com fluxos econômicos cada vez mais integrados entre nossos países, diferente do neocolonialismo das potências ocidentais, para que todos possam se desenvolver igualmente e com um novo paradigma de sustentabilidade ambiental. Apenas assim poderemos recuperar nosso meio ambiente. Para esse objetivo precisamos ter uma relação não apenas econômica, mas também educacional, científica, cultural e tecnológica entre os países do Sul Global. Nosso conceito de segurança está entrelaçado com o de segurança social, ambiental, de cooperação e objetiva encontrar harmonia e equilíbrio para a preservação do planeta e de nossa espécie.

Precisamos, dentre outras ações, de um amplo programa de integração entre nossas universidades e de programas educacionais na Educação Básica entre nossos países, tanto para criar condições de desenvolvimento humano quanto para viabilizar o desenvolvimento econômico e tecnológico numa sociedade em que a Ciência e a Cultura são as principais forças econômicas. Nossa estratégia de segurança passa pela Educação, pela diversidade cultural de nossos povos e por uma integração da nossa Ciência.

O Brasil tem interesse e nossas universidades almejam esse intercâmbio e essa parceria com outros países, inclusive para viabilizar a integração econômica e um amplo programa de transição socioecológica que pode alavancar nossa economia e ser a melhor oportunidade de geração de empregos e de inclusão social. Essa é uma perspectiva de segurança planetária que passa pela integração, e nunca pelo confronto ou pela guerra.

Edição: Gabriela Amorim