O Brasil esteve bem representado no II American Association of Brazilian Candomble and Culture Symposium 2024, realizado no DuSable Black History Museum and Education Center, em Chicago, Illinois (EUA), no último dia 17. Ìyá Márcia d'Ògún, Iyalorixá do Ìlẹ̀ Àṣẹ Ẹwà Ọ̀lódùmarè, em Lauro de Freitas (BA) marcou presença no simpósio, compôs a mesa de abertura e esteve em palestras e solenidades do evento. Ela é presidenta do Conselho Municipal de Política Cultural de Salvador (CMPC), coordenadora do Núcleo Lauro de Freitas da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO), coordenadora do Conselho InterReligioso da Bahia (CONIRB) e conselheira Consultiva da Rede Ecumênica da Água (REDA).
Num cenário onde os crescentes crimes de ódio religioso contra lideranças do candomblé ocupam as redes sociais e a mídia no Brasil, o evento internacional foi palco de intercâmbio cultural para o fortalecimento da luta em defesa da liberdade religiosa em âmbito mundial.
Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania afirmam que as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, estão entre as cinco mais seguidas no Brasil, ao mesmo tempo, são alvos constantes de agressões. No serviço Disque 100 o registro de denúncias de intolerância religiosa cresceu, também aumentaram as violações, que incluem diversos tipos de violência.
Entre 2018 e 2023, o serviço registrou um aumento de mais de 140% no número de denúncias de intolerância religiosa no país, passando de 615 denúncias, em 2018, ´para 1.418 em 2023. No mesmo período, o número de violações teve um acréscimo ainda maior, de mais de 240%, passando de 624 para 2.124. Entre 2022 e 2023, o aumento das denúncias foi de 64,5% e o de violações de 80,7%.
Palestras e homenagens
Na abertura do simpósio, Ìyá Márcia entregou Moção de Aplausos do Conselho Municipal de Política Cultural de Salvador, para Malki Che Brown, presidente da American Association of Brazilian Candomble and Culture, pelos dez anos de existência da entidade na resistência pela representatividade cultural e religiosa.
No dia 18, ela apresentou palestra com o tema “Water: the essence of life and Orixá Oxum” (Água: essência da vida e Orixá Oxum), em que abordou o racismo, intolerância, ódio e terrorismo religiosos e o trabalho que as quatro entidades que ela representa desenvolvem na Bahia e no Brasil. O destaque da apresentação foi a atuação da Rede Ecumênica da Água (REDA) que agrega diversas religiões, com o objetivo comum de garantir o acesso gratuito à água para todos.
Ìya Márcia d’Ògún afirmou que o Candomblé baiano chegou a Chicago, levado por sua mãe biológica, Ìyá Valdete de Ewà, D. Detinha, e destacou sua satisfação de ver a religião afrobrasileira ampliando seus horizontes para outros países.
Ela enfatizou a emoção de participar desse segundo simpósio, já que há dez anos esteve no primeiro, quando recebeu uma homenagem póstuma à sua mãe, primeira Yalorixá que levou para Chicago em 1993, as primeiras “sementes” do candomblé. “Acompanho esse processo, percebo que o candomblé está crescendo, tem uma comunidade religiosa, tenho filhos de santo aqui. Ìyá Valdete construiu comunidades religiosas na Itália, Alemanha e nos Estados Unidos da América, agradeço a ela por ter pavimentado a trilha que hoje eu percorro. É uma emoção vim participar, venho também com a intenção de fundar um núcleo da RENAFRO aqui em Chicago”, declarou.
A criação do Núcleo Chicago (EUA) da RENAFRO foi formalizada dia 23 de maio, na Tenda Espírita Cáritas, quando foram entregues por Ìyá Márcia mais três moções de aplauso para Pai Glauco Moreno, da Tenda Espírita Cáritas; para Patrícia Peixoto, do Brazil Midwest Art Center; e Dr. Luís Moreira, Brasil e EUA .
Edição: Gabriela Amorim