Dona Cadu faleceu na madrugada desta terça-feira (21). Ela nasceu Ricardina Pereira da Silva, em 14 de abril de 1920, na cidade de São Félix, no Recôncavo baiano. Mulher negra, mãe, líder comunitária, tornou-se a ceramista mais antiga de Coqueiros, distrito de Maragogipe (BA), cidade reconhecida pela qualidade e tradição dos trabalhos manuais em barro.
Guardiã de memórias e tradições de seu povo e sua terra, dona Cadu também era sambadeira e rezadeira. Incansável em sua dedicação à cultura popular, na última sexta-feira (17), esteve presente à homenagem prestada a ela no Museu de Arte da Bahia (MAB), em Salvador, durante a 22ª Semana Nacional dos Museus.
A importância de sua trajetória para a cultura do estado foi reconhecida em diversas outras homenagens. No início deste ano, recebeu o Prêmio Preservar: Culturas, Identidades e Saberes Ancestrais, parte da Lei Paulo Gustavo da Bahia, que reconheceu personalidades e iniciativas que prestaram relevante contribuição ao desenvolvimento artístico ou cultural do estado.
Dona Cadu também acumulava dois títulos de Doutora Honoris Causa, o primeiro concedido em 2020 pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e em 2021 pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
No Memorial Valorativo realizado pela UFRB para justificar o título, Dona Cadu é identificada como “Tesouro Humano Vivo” nos termos propostos pela Unesco, enquanto uma das mais significativas personalidades difusoras da tradição oral, poética e performática de tradições do Recôncavo.
A sua trajetória foi definida pela universidade por um reconhecimento de singularidade por suas atividades de ceramista, de sambadeira e de rezadeira, sendo uma grande referência da cultura do Recôncavo da Bahia de ancestralidade africana e indígena.
Já o documento de solicitação de outorga do título de Doutora Honoris Causa na UFBA destacou que ela representava “claramente a figura de mestre de saberes populares, fiel a seus conhecimentos técnicos, gestos e dizeres tradicionais, trabalhando como louceira desde criança, na Vila de Coqueiros, recôncavo baiano. Como todos os mestres, ela é reconhecida por sua integridade, sua condição de liderança, sua popularidade, e, obviamente, pela constância e fidelidade na reprodução de objetos cerâmicos de uso alimentar”.
Após 104 anos de intensa e fecunda produção cultural, convivência comunitária, guarda e difusão de memórias de seu povo, Dona Cadu encantou-se.
A Secretaria de Estado da Cultura da Bahia e a UFBA emitiram nota de pesar pelo falecimento da mestra. A UFRB decretou luto oficial de três dias.
Edição: Alfredo Portugal