Bahia

Violência no campo

Fazendeiros destroem plantações em acampamento do MST em Itabela (BA)

Famílias do acampamento Osmar Azevedo vinham recebendo ameaças desde sábado (27)

Salvador |
Fazendeiros derrubaram plantações em acampamento do MST no extremo sul da Bahia - Coletivo de Comunicação MST-BA

Na manhã de hoje (30), fazendeiros, utilizando tratores, destruíram as plantações do acampamento Osmar Azevedo, em Itabela (BA), ocupada por cerca de 300 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Desde o sábado (27), as famílias vinham recebendo ameaças desses fazendeiros.

No final da tarde do sábado, as famílias foram surpreendidas por fazendeiros que fizeram ameaças e tentaram coagi-las. “Cercaram um companheiro lá na roça e ficaram interrogando e ameaçando durante muito tempo. Depois que soltaram o companheiro, ficaram rodando com o carro dentro da roça”, afirma um acampado.

As famílias relataram que as ameaças têm sido frequentes e cada vez mais violentas, inclusive com disparos de arma de fogo durante a noite em frente ao acampamento. “A forma que eles estão agindo está ficando perigoso. Cada dia que passa, os ataques estão sendo com mais violência”, relata um morador.


Acampamento vem recebendo ameaças dessas mesmas pessoas desde o sábado (27) / Coletivo de Comunicação MST-BA

No dia seguinte, domingo (28), o grupo retornou às roças do acampamento, invadiu e destruiu parte do plantio. Ainda de acordo com as famílias acampadas, eles teriam ameaçado invadir o acampamento e colocar fogo nos barracos. Na manhã de hoje (30), eles voltaram com tratores e derrubaram as roças plantadas.

Quem são os fazendeiros

No domingo, uma mulher se apresentou às famílias como Rubiane Laviola Correa, suposta herdeira da Fazenda São Jorge. Ela exibiu papéis que afirmava serem uma ação judicial e que estaria ali para avisar aos acampados sobre uma decisão judicial, com tom de ameaça. Junto com ela, estava seu irmão Rômulo Souza Laviola, que também esteve na manhã de hoje no acampamento com os tratores para derrubar as plantações.


Rubiane Laviola Correa esteve no acampamento no domingo (28) afirmando haver uma decisão judicial contra as famílias acampadas / Coletivo de Comunicação MST-BA

Uma moradora do acampamento relata que a família Laviola vem há tempos perseguindo os agricultores e agricultoras e destruindo suas plantações, causando danos e ameaçando os trabalhadores. Tentamos entrar em contato com a família Laviola, mas não foi possível. O espaço segue aberto para manifestação.

O MST informou que a polícia militar esteve no local no domingo e na manhã de hoje. O Brasil de Fato Bahia entrou em contato com a assessoria de comunicação da PM, mas até o fechamento da matéria não havia recebido resposta. O texto poderá ser atualizado caso haja resposta.


Rômulo Laviola, irmão de Rubiane, esteve junto com ela no acampamento no domingo e retornou hoje (30) com os tratores / Coletivo de Comunicação MST-BA

Ataques

Não é a primeira vez que o acampamento Osmar Azevedo é alvo de ataques. Na madrugada do dia 10 de março, homens identificados como jagunços atiram contra o acampamento em Itabela (BA). Ninguém ficou ferido, porém as famílias ficaram assustadas e denunciaram o ataque.

Em nota, o MST denuncia os constantes ataques que atingem as famílias agricultoras e alerta às ameaças e violências frequentes organizados por fazendeiros, em forma de milícia rural, como o movimento que se intitula Invasão Zero que provoca terror e violência no campo.

Acampamento Osmar Azevedo


As cerca de 300 famílias plantaram hortaliças, verduras, raízes e árvores nativas e frutíferas / Coletivo de Comunicação MST-BA

A Fazenda São Jorge foi ocupada por cerca de 200 famílias de trabalhadores rurais no dia 03 de fevereiro de 2023. Ela está localizada no município de Itabela, extremo sul da Bahia. A área que estava abandonada e improdutiva, tem cerca de 800 hectares, sendo que mais de 400 hectares não possuem matrícula no Cartório de Registros de Imóveis do município. Ainda de acordo com o MST, há indicativos de ilegalidade na matrícula dos outros 400 hectares.

Na área antes improdutiva, as famílias acampadas plantaram hortaliças, verduras e raízes, além de realizar a criação de bosques com árvores nativas e frutíferas. Todas as plantações foram derrubadas hoje.

Edição: Gabriela Amorim