O estudo inédito "Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil", lançado terça-feira (16) pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), braço executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), revela que, embora o país caminhe para universalização do acesso à internet, com 84% de seus habitantes de 10 anos ou mais com acesso à rede, as desigualdades ainda são preponderantes na realidade brasileira. Apenas 22% dos brasileiros têm condições satisfatórias de conectividade.
A ideia de conectividade significativa leva em consideração questões relacionadas a qualidade do acesso, dispositivos disponíveis para uso e habilidades digitais, entre outras. "É um conceito em construção e apoiado no entendimento de que a conexão deveria permitir utilização satisfatória de vários serviços na Internet, possibilitando o aproveitamento das oportunidades no ambiente online", afirma o estudo.
O levantamento oferece uma avaliação detalhada das lacunas existentes nesses pontos sobre acesso, uso e apropriação da internet no contexto nacional. O que se pode ver são disparidades entre regiões, estados, gênero, raça. As marcantes desigualdades sociais do país são refletidas também no acesso e uso da internet, sendo as regiões sudeste e sul as que apresentam melhores resultados, e as regiões nordeste (10%) e norte (11%) com índices mais baixos de acesso significativo. O estado de São Paulo, por exemplo, tem 38% da população com qualidade de acesso, já no estado do Pará apenas 8% da população têm conexão significativa.
A desigualdade se apresenta também entre homens e mulheres. O estudo mostra que 28% dos homens têm qualidade de acesso alta, enquanto apenas 17% das mulheres brasileiras acessam essa internet de qualidade. Quando o recorte é de raça, pessoas brancas são quase o dobro em acessos de qualidade (32%) do que pessoas negras (18%).
Na prática, essas diferenças afetam diretamente o acesso a direitos através da internet, como educação, trabalho, e até mesmo simples ato de pagar contas. Para 88% da população brasileira, a conexão à internet ainda é cara, limitada, lenta e pouco significativa. "As desigualdades de acesso e uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no Brasil são reflexo de profundas divisões (econômicas, sociais e culturais) presentes na sociedade. Por isso, superar a exclusão digital é algo que vai além do que simplesmente garantir o acesso à internet", afirma o estudo.
Metodologia
O estudo se propôs a mensurar a qualidade e efetividade do acesso da população às tecnologias digitais, utilizando dados disponíveis no estudo da TIC Domicílios – a mais abrangente pesquisa amostral domiciliar especializada em tecnologias da informação e comunicação feita no país. Para isso, se recorreu à ideia de “conectividade significativa”.
Foram definidos nove indicadores, agrupados em diferentes dimensões (acessibilidade financeira, acesso a equipamentos, qualidade da conexão e ambiente de uso). São eles: custo da conexão domiciliar, plano de celular, dispositivos per capita, computador no domicílio, uso diversificado de dispositivos, tipo de conexão domiciliar, velocidade da conexão domiciliar, frequência de uso da Internet e locais de uso diversificado.
Dentre as dimensões analisadas, foram os indicadores de acessibilidade financeira que apresentaram o pior desempenho, seguidos pelos de acesso a equipamentos e de qualidade da conexão. O estudo incorporou análise em duas camadas, considerando dimensões territoriais, sociodemográficas e socioeconômicas, e aferindo a qualificação para o uso da Internet, bem como os tipos de atividades desenvolvidas na rede.
“Com a primeira camada, tentamos identificar as brechas em inclusão digital. Já a segunda diz respeito à avaliação dos níveis de conectividade por habilidades digitais e atividades online, o que nos permite avançar na compreensão sobre as condições da população para o aproveitamento das oportunidades e o gerenciamento dos riscos postos pelo mundo digital. Juntas, elas nos permitiram compreender as nuances da conectividade digital no país”, afirma Graziela Castello, coordenadora da pesquisa.
Edição: Gabriela Amorim