Bahia

Casa de Mulheres

Exposição com fotoinstalações trata de violência judicial contra mulheres

Após quatro anos, Rosa Bunchaft volta a expor; obras tratam de violência da aplicação da Lei de Alienação Parental (LAP)

Salvador |
"Alienadora Confessa" obra de Rosa Bunchaft em exposição no MAM-BA - Rosa Bunchaft

A artista Rosa Bunchaft apresenta duas novas exposições com fotoinstalações a partir desta quinta-feira (24) no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Vara e Costela de Adão compõem a mostra coletiva Casa de Mulheres, com obras de 44 mulheres, que fica em cartaz até 31 de março.

Este novo projeto de Rosa Bunchaft trata da violência processual cometida contra mulheres com base na Lei de Alienação Parental (LAP), uma situação vivenciada por ela mesma. A lei, em vigor no Brasil, é baseada no conceito da Síndrome da Alienação Parental criado pelo psiquiatra Richard Gardner. Essa síndrome nunca foi reconhecida pelos seus pares. Em 2022, a ONU apelou ao governo brasileiro pela revogação da lei, por considerar que a legislação penaliza as mães e as crianças.

Em seu trabalho, Bunchaft usa a técnica de impressão de fotolitos sobre espelhos para mostrar como as mulheres são tratadas no judiciário com base na LAP. “Estou entrevistando outras mulheres que passam ou passaram por isso, sobreviventes da LAP como eu, e anotando as diferentes formas em que essa violência se manifestou no processo, seja pelas acusações e mentiras machistas dos pais (que deveriam ser consideradas litigância abusiva, mas não são), seja pelas perguntas e afirmações feitas por juízes, ou nas entrevistas de psicólogos e assistentes sociais, que revelam o machismo estrutural do judiciário”, conta.


Obra da Série Jardim de Inverno de Rosa Bunchaft / Rosa Bunchaft

A artista conta que as histórias ouvidas por ela são dilacerantes, por isso mesmo, se viu na necessidade de fazer com algo a partir disso. “Através de técnicas de fotografia (inclusive antigas, do séc. XIX) posso alterar as imagens de crianças e mães e assim consigo manter as vítimas no anonimato e apontar essas violências”, explica.

Foi assim que ela construiu essas obras que compõem a exposição: borrando imagens e mantendo em seus títulos trechos verdadeiros dos discursos violentos utilizados contra as mulheres-mães baseados na Lei de Alienação Parental. “A LAP precisa ser revogada já, porque se tornou um instrumento de ataque contra mulheres e crianças, e famílias chefiadas por mulheres, que são a maioria”, defende.

Os trabalhos artísticos anteriores de Rosa Bunchaft estão ligados a uma fotografia mais conceitual e metalinguística, com o uso de fotografia pinholes gigantes, por exemplo. “Nunca fiz um trabalho tão diretamente feminista”, afirma. Ela conta que passou quatro anos tão deprimida que não conseguia mais produzir arte.

“Então vi que, para recomeçar, precisava falar sobre essa dor imensa de ter passado por isso, e usar a raiva feminista pra denunciar essa excrescência jurídica que está sendo usada covardemente, aproveitando o segredo de justiça, pra violentar mulheres”, conta.

Antes de encerrar a conversa, ela pede para mandar um recado para as mulheres que passam por uma história parecida com a sua: “Se você está fragilizada por estar tentando sobreviver ou ter sobrevivido à LAP, uma coisa que pode ajudar é buscar se unir a outras mulheres estão passando por isso, coletivas e redes de apoio. A que está me ajudando é coletiva @cpivozmaterna”, diz.

Serviço

As obras de Rosa Bunchaft compõem a exposição Casa de Mulheres 2024, vinculada ao Seminário “Protagonismos Femininos nas Artes, Design e Arquitetura”, promovido pela Escola de Belas Artes e Faculdade de Arquitetura da UFBA, entra em exibição a partir de amanhã. Com curadoria de Alejandra Muñoz e Neyde Lantyer, em exibição até o fim de março.

Local: MAM-BA
Dias: terça-feira a domingo (até 31/03)
Horário: 10h às 18h.
Entrada gratuita

Edição: Gabriela Amorim