Bahia

Lavagem do Bonfim

Organizações e movimentos populares realizam protestos durante Lavagem do Bonfim

Lavagem do Senhor do Bonfim acontece nesta quinta (11) e deve ser marcado por diversos protestos

Salvador |
Cortejo e lavagem do Senhor do Bonfim, nesta quinta-feira (11), deve ser marcado por protestos de movimentos e organizações populares - Manu Dias/GOVBA

Inscrita no calendário soteropolitano como a abertura das festas de verão, a Lavagem do Senhor do Bonfim é também espaço de manifestações políticas de movimentos e organizações populares. Diversos deles já marcaram para esta quinta-feira (11) a concentração de seus militantes nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e Elevador Lacerda, de onde sai a caminhada até a igreja, no bairro do Bonfim.

O Coletivo Agbara Dudu (Poder Preto, em yorubá) é dos que irá vai marcar no tradicional cortejo. O grupo deve realizar um ato público em frente ao antigo Ministério da Fazenda, no Comércio, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade e dos partidos políticos para a falta de representatividade da população preta de Salvador nos cargos eletivos do Executivo e do Legislativo Municipal. A intenção do grupo é incentivar as candidaturas de pretos e pretas no campo democrático popular para a disputa eleitoral em outubro.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) Bahia também deve participar do cortejo com concentração em frente ao Elevador Lacerda a partir das 7h. Já a Apub Sindicato levará para o cortejo a banda Tambores de Búzios, com concentração às 8h em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia.


Celebração reúne elementos católicos e candomblecistas no festejo que abre o verão de Salvador / Marcelo Reis/Iphan

Diversos movimentos e organizações ambientalistas levam para o cortejo protesto contra as alterações da Lei Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo de Salvador, promovida nos últimos dias de 2023, e que prevê a alteração da destinação original de diversas áreas verdes do município.

Programação cultural

Estão previstos diversos cortejos de blocos afro, de samba e afoxé desde às 7h durante o cortejo. O cortejo dos Filhos de Gandhy sai da sede do Afoxé, às 7h; o do bloco Tocatambor saí da Igreja da Conceição, às 8h; o Samba pra Rua deve sair às 9h30 do Distrito Naval. Tem ainda Samba do Quiabo na Feira de São Joaquim a partir das 13h e a Lavagem do Pelô no Largo Quincas Berro D’Água a partir das 20h.

Lavagem do Bonfim

A Festa do Senhor do Bonfim este ano marca os 270 anos da inauguração da Igreja do Bonfim. A celebração reúne tanto devotos católicos quanto do candomblé, além de centenas de pessoas que não necessariamente professam alguma fé, mas acreditam na força das manifestações populares.


É uma festa rica de fé, convivência religiosa e alegria / Paula Fróes/Governo da Bahia

A história da festa remonta ao período da escravidão, quando a igreja foi construída por mão de obra escravizada. As imagens que até hoje ornamentam a igreja foram trazidas de Portugal por Teodósio Rodrigues de Farias, traficante de pessoas escravizadas. Durante o mês de janeiro, era comum que se promovesse a lavagem do templo, sempre com mão de obra de pessoas escravizadas.

Como forma de resistência e ressignificação, a Lavagem foi incorporada pelos praticantes do candomblé aos rituais das Águas de Oxalá. A Arquidiocese de Salvador passou então a proibir que a lavagem acontecesse dentro da igreja, restringindo a presença das mulheres vestidas a caráter apenas às escadarias.

Outro elemento que demarca a presença da fé do povo de terreiro na festa do Senhor do Bonfim são as roupas brancas usadas quase que obrigatoriamente por todos os devotos durante o cortejo e a lavagem. O branco é a cor de Oxalá. As quartinhas com água de cheiro que as “baianas” levam aos ombros para lavar as escadas também são elementos rituais do candomblé presentes na celebração.

Católicos, candomblecistas ou apenas devotos sem religião, o que importa na lavagem do Bonfim é que “quem tem fé, vai a pé”.

Edição: Alfredo Portugal