De acordo com as investigações da Polícia Civil baiana, a ialorixá e líder quilombola Mãe Bernadete Pacífico foi assassinada após entrar em conflito com interesses do tráfico de drogas no território. Em coletiva nesta quinta-feira (16), a coordenadora da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Andréa Ribeiro, afirmou que a definição da autoria e a materialidade do crime ficaram bem definidas e comprovadas.
“A líder quilombola era legitimada pela comunidade, tinha uma liderança forte na defesa dos interesses do quilombo, quando isso se contrapôs aos interesses do tráfico, ela pagou com a própria vida”, afirmou a delegada. O promotor de Justiça Luiz Neto, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco) do Ministério Público da Bahia (MP-BA) frisou que as investigações trouxeram farta comprovação de que “Mãe Bernadete morreu porque lutava contra o tráfico de drogas na região”.
“Ela tinha uma legitimidade popular grande. Seus conselhos, orientações e decisões eram ouvidas pela comunidade a qual defendia. Era uma mulher de força, grande líder religiosa”, disse o promotor durante a coletiva de imprensa.
Na segunda-feira (13), o MP-BA denunciou cinco homens pelo envolvimento no assassinato de Mãe Bernadete. Dois deles já estão presos. Todos foram denunciados por homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima. A denúncia foi aceita nesta quinta (16) pela 1º Vara Criminal da comarca de Simões Filho.
Investigação
De acordo com a Polícia Civil, as investigações apontaram Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus como mandantes do crime, ambos integrantes de uma facção de tráfico de drogas que atua em Simões Filho. Poucos dias antes do crime, Mãe Bernadete teve uma discussão com Ydney, presenciada por pessoas da comunidade.
Outro denunciado pelo assassinato é Sérgio Ferreira de Jesus, morador do território, que vinha realizando exploração ilegal de madeira. As investigações mostraram que Mãe Bernadete vinha reprimindo a ação ilegal de Sérgio. Em represália, ele teria instigado Ydney e Marílio a realizarem o crime.
Os dois outros denunciados no processo movido pelo MP-BA, Arielson e Josevan, são apontados como os executores do assassinato. Após o crime, eles levaram consigo os celulares de Mãe Bernadete e de seus netos, na tentativa de dificultar as investigações. Dentre os denunciados, apenas Arielson e Sérgio se encontram presos.
Mãe Bernadete foi morta no dia 17 de agosto, em sua casa no quilombo Pitanga dos Palmares. A denúncia oferecida pelo MP-BA aponta que ela foi alvejada por 25 disparos. No momento do crime, ela estava acompanhada seus três netos, de 12, 13 e 18 anos. Mãe Bernadete era coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), além de ser uma liderança respeitada em seu território.
A história do quilombo remonta ao século XIX, e há décadas vem resistindo ao avanço não só do tráfico sobre o território, mas também de grandes empreendimentos públicos e privados que geram uma forte especulação imobiliária. Em 2017, o filho da liderança, Gabriel Pacífico também foi assassinado em um atentado.
Edição: Alfredo Portugal