Pescadores e pescadoras artesanais de 12 estados brasileiros realizaram um protesto em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília (DF), na última terça-feira (19), fazendo um ato político para rememorar os 4 anos do Crime do Petróleo e reivindicar por reparação. Em agosto de 2019, apareceram as primeiras manchas de petróleo no litoral sul da Paraíba que se estenderam por mais 10 estados, contaminando todo o litoral do nordeste, além dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Mais de mil localidades foram atingidas na ocasião. Os pescadores e pescadoras artesanais foram algumas das principais vítimas do maior derramamento de petróleo já ocorrido no Atlântico Sul. A tragédia é considerada o maior crime ambiental em extensão, que já aconteceu no Brasil.
O ato, organizado pela Campanha Mar de Luta, coletivo formado por pescadores e pescadoras artesanais e por organizações ambientalistas e de Direitos Humanos, reivindica a recuperação ambiental das áreas atingidas, reparação socioeconômica para as comunidades pesqueiras impactadas e pesquisas científicas que averiguem os impactos do derramamento no meio ambiente e na saúde dos pescadores e pescadoras artesanais, já que muitos passaram por um processo de intoxicação durante a retirada do petróleo das praias, estuários e manguezais. Em muitas situações, os pescadores retiraram o material sem a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que demoraram de serem distribuídos para os voluntários.
Outro problema relatado pelas comunidades pesqueiras foram os graves impactos socioeconômicos enfrentados por elas. “O problema da fome foi grande porque não tínhamos como pescar, nem tão pouco como vender e até hoje a gente ver que o impacto que causou foi muito grande, porque os mariscos mortos ainda continuam aparecendo, ostras também. Houve a diminuição dos peixes, dos camarões e não teve nenhum reparo ambiental, não teve pesquisa. Ainda por cima, o benefício que houve do governo federal, poucos receberam. Até hoje estamos sofrendo”, relata a pescadora de Itapissuma (PE), Joana Mousinho, que integra a Campanha Mar de Luta. Manchas de petróleo também costumam reaparecer na costa quando há mudança de maré.
Os graves impactos enfrentados pelas comunidades pesqueiras com o derramamento de 2019 e com a exploração de petróleo nas plataformas marítimas nas regiões do pré-sal, que ocasionam constantes vazamentos no mar e que contaminam as regiões de mangue, faz com que a Campanha Mar de Luta se posicione contra a abertura de novos poços de petróleo, incluindo a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
“Nós estamos nos sentindo ameaçados diante de todos esses retrocessos que têm acontecido em outros estados do Brasil, em relação a essa exploração de petróleo. De tudo que houve, de toda perda, de toda fome, de tudo que eles matam”, lamenta a pescadora e integrante da Campanha Mar de Luta, Delaine Rocha, de Bailique, distrito de Macapá (AP) localizado na região ameaçada pela exploração de petróleo da foz do Amazonas. “Só de enfrentar essas simulações e pesquisas em relação ao petróleo na nossa foz, nos traz essa preocupação de que tudo isso possa acontecer com a gente, causando esses mesmos desastres”, completa.
Para a Campanha Mar de Luta, a não perfuração de novos poços de petróleo permite que seja iniciada uma transição energética justa e popular, que é urgente devido a emergência climática que vivemos.
Sobre a Campanha Mar de Luta
A Campanha “Mar de Luta: Justiça social para os povos das águas atingidos pelo petróleo” surgiu em 2020 como uma iniciativa de movimentos sociais de pescadores e pescadoras artesanais e de organizações ligadas às temáticas de direitos humanos e socioambientais, como o Conselho Pastoral dos Pescadores, o Movimento de Pescadores e Pescadoras artesanais (MPP), Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), em conjunto com outras organizações, além de pesquisadores e ativistas.
O objetivo da referida Campanha é pautar os impactos às comunidades pesqueiras afetadas pelo derramamento de petróleo que atingiu o litoral do Nordeste e de parte do Sudeste do país em 2019, além de reivindicar respostas e reparações do Estado.
Edição: Gabriela Amorim