Nesta quarta-feira (02), será exibido gratuitamente o documentário Digo às companheiras que aqui estão, sobre a trajetória de Lenira Carvalho, uma das precursoras da luta por direitos das trabalhadoras domésticas. A exibição acontece no Cinema do Museu, (Circuito Sala de Arte/Corredor da Vitória), em Salvador, seguida do debate Comunicação, memória e as lutas das mulheres.
A iniciativa faz parte da programação da Oficina de Comunicação do Programa Doar para Transformar da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE). O evento terá a participação de lideranças das 18 organizações sociais de mulheres do Nordeste, que fazem parte da comunidade de prática do programa.
“Esse evento faz parte da programação da Oficina de Comunicação do Projeto Doar para Transformar, e a partir do documentário que mostra a trajetória de Lenira nós vamos discutir a importância da comunicação e da memória para a luta das mulheres. A história de Lenira tem muita força, principalmente pelo fato de ser uma liderança nordestina, representando a luta das trabalhadoras domésticas, um segmento formado majoritariamente por mulheres negras”, explica a assessora de projetos e formação da CESE, Viviane Hermida, que coordena o projeto.
Participam do debate a diretora do documentário, Sophia Branco, que é socióloga, militante feminista do Fórum de Mulheres de Pernambuco/Articulação de Mulheres Brasileiras; Carmen Silva, socióloga, militante feminista do Fórum de Mulheres de Pernambuco/Articulação de Mulheres Brasileiras e educadora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, e Creuza Oliveira, secretária de Formação Sindical e de Estudos do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (Sindoméstico/BA), com mediação de Marcella Gomez, assessora de projetos e formação da CESE.
Documentário
Produzido pelo SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia e Parabelo Produções, com direção de Sophia Branco e Luís Henrique Leal, o documentário Digo às Companheiras que Aqui Estão traz uma entrevista Lenira Carvalho em sua casa poucos meses antes de seu falecimento. Ela morreu aos 88 anos, em agosto de 2021. Através dos seus relatos, Lenira traz à tona discussões elaboradas pela categoria, que dizem muito sobre a formação social do Brasil.
Lenira Carvalho foi pioneira na luta por direitos das trabalhadoras domésticas. Ela iniciou o movimento em defesa da categoria no início da década de 1960. Durante os anos da ditadura militar e no processo de democratização do país, atuou na Juventude Operária Católica (JOC), junto a Dom Helder Câmara e outras lideranças populares ligadas à Teologia da Libertação.
Na década de 1970, fundou com outras trabalhadoras a Associação das Trabalhadoras Domésticas do Recife. Na constituinte, foi a liderança que representou a voz da categoria no Brasil, discursando em plenário e entregando a Ulysses Guimarães a carta das domésticas com suas reivindicações. Com o reconhecimento das trabalhadoras domésticas como categoria profissional na Constituição de 1988, junto com outras companheiras, Lenira Carvalho fundou o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Recife. Na década de 1980, atuou com outros grupos de mulheres e feministas na cidade, sendo também uma das fundadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco.
“Vou batalhar e não posso estar sozinha nesta luta. Tenho que procurar mais e mais parceiras. É nisso tudo em que acredito e é por isso que tenho a esperança de que, um dia, nenhuma moça do interior ou da cidade, empregada doméstica, do comércio ou da fábrica, tenha que chorar em busca de sua própria dignidade”, dizia ela. Lenira nasceu no dia 23 de novembro de 1933 na cidade de Porto Calvo, no interior de Alagoas. Ainda criança, passou a morar no Recife e começou a trabalhar como empregada doméstica em casa de família por volta dos 12 anos.
Doar para Transformar
O programa Doar para Transformar (Giving for Change) é uma iniciativa desenvolvida no Brasil pela CESE, com o apoio da Fundação holandesa Wilde Ganzen, através do Ministério das Relações Exteriores. O programa envolve também outras sete nações do Sul Global – Burkina Faso, Etiópia, Gana, Quênia, Moçambique, Uganda e Palestina.
A partir do apoio a projetos, encontros de formação, ações de incidência política, mobilização de recursos e campanhas, a iniciativa busca contribuir para o fortalecimento e o aprendizado coletivo entre organizações sociais do movimento de mulheres do Nordeste.
Edição: Gabriela Amorim