Bahia

Sim, Eu Posso

MST, governo do estado e Uneb iniciam alfabetização 4.500 pessoas na Bahia

Programa Sim, Eu Posso terá 300 turmas em 16 municípios baianos para alfabetizar em 4 meses

Salvador |
Sim, Eu Posso deve alfabetizar 4.500 pessoas em 16 municípios baianos nos próximos quatro meses - Divulgação/SEC

O Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) junto ao Governo da Bahia e à Universidade do Estado da Bahia (Uneb) iniciaram no último dia 17 o programa de alfabetização Sim, Eu Posso. Com 300 turmas em 16 municípios de 11 territórios de identidade do estado, o programa deve alfabetizar 4.500 pessoas em quatro meses.

De acordo com Poliana Reis, coordenadora de Educação do Campo e Quilombola da Secretaria de Estado da Educação (SEC), o método chamado Sim, Eu Posso foi criado e utilizado em Cuba, após a revolução. Foi através deste método que o país conseguiu erradicar o analfabetismo. Posteriormente, diversos países, inclusive o Brasil, adotaram o programa para alfabetização de jovens, adultos e idosos.

O MST é o guardião do método no país e convidou a SEC para realizar uma parceria para aplica-lo na Bahia. “É fruto de uma luta coletiva do MST, da disposição e solidariedade de alfabetizar nosso estado”, afirma Síntia de Paula Carvalho, que compõe o Setor de Educação MST no estado e coordenadora o Sim, Eu Posso.

Analfabetismo

O convite à SEC foi feito pelo MST em 2019, quando foi realizada, na Bahia, uma formação de formadores do método para todo o Nordeste. Em seguida, representantes da secretaria foram ao Maranhão, conhecer a aplicação do Sim, Eu Posso, que já estava em sua segunda edição naquele estado. A intenção era realizar uma turma piloto ainda em 2020, mas a pandemia adiou esses planos. Em 2021, a Uneb foi convidada a participar da campanha.


Aula inaugural do Sim, Eu Posso aconteceu no último dia 17 na Uneb / Divulgação/SEC

À época, a Bahia tinha cerca de 1,5 milhão de pessoas em situação de analfabetismo. De acordo com os dados mais recentes Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada no ano de 2022, esse índice já diminuiu significativamente, chegando a 10,3%, menor percentual de todo o Nordeste.

Para Poliana Reis, o Sim, Eu Posso é mais uma frente de trabalho da SEC, junto à sociedade civil e universidades, para diminuir ainda mais esse índice. “O objetivo é chegar à erradicação do analfabetismo no estado da Bahia”, afirma.

Método

A coordenadora de Educação do Campo e Quilombola da SEC explica que o Sim, Eu Posso é um método alfanumérico, ou seja, que associa letras a números. “Isso é muito importante, porque, para pessoas que não tiveram acesso às letras, à apreensão da escrita e da leitura, é mais fácil fazer essa associação com números, que está mais presente na vida das pessoas, em processos de comercialização, etc. Tem uma identificação mais fácil”, explica.

Após 4 meses, espera-se que alfabetizandos e alfabetizandas tenham feito a apreensão da escrita e da leitura, num nível que consigam escrever um bilhete. “Obviamente, só isso não é o suficiente. Existe uma continuidade, um planejamento de pós essa primeira etapa, serem trabalhados os círculos de cultura, baseado no método de Paulo Freire”, acrescenta Poliana Reis.


Poliana Reis (à esq.) com educadoras que fazem parte do Sim, Eu Posso na Bahia / Divulgação/SEC

Ela explica ainda que as aulas são mediadas por um alfabetizador ou alfabetizadora a partir de telenovelas. “A telenovela traz essa possibilidade de apreensão da atenção das pessoas”, diz.  Com 17 vídeos, cada um dos 65 capítulos traz um aprendizado diferente e contextualizado. “Importante chamar atenção que esse método vem da experiência cubana, mas, em todos os lugares que é implantado, ele traz aspectos culturais do local, identitário do grupo que está sendo alfabetizado”, aponta a coordenadora.

MST e Educação

A relação do MST com a educação não é nenhuma novidade. Só na Bahia, são 120 escolas em assentamentos e acampamentos do MST. Síntia Carvalho destaca, que desde a gênese do movimento, a educação tem se firmado como uma bandeira importante.

“A educação no MST tem sido construída coletivamente pela necessidade de formação, de construção do próprio setor de educação para que possa acompanhar nossas escolas, acompanhar o debate, lutar em prol de uma educação pública, gratuita e de qualidade”, conta a coordenadora do Sim, Eu Posso.


Síntia de Paula Carvalho explica que a educação é uma bandeira antiga e importante do MST / Arquivo pessoal

Ela acrescenta que, além da luta pelo acesso à terra, é também bandeira do MST o acesso a políticas públicas de educação. “Para que crianças, juventude e também adultos consigam estudar dentro do próprio assentamento, consigam ter acesso a uma graduação, uma pós-graduação. Isso para nós tem uma relevância muito grande, de acesso, de qualidade de vida, de ter escola dentro do próprio assentamento, de fazer luta coletiva”, explica.

Edição: Alfredo Portugal