A Bahia recebe, a partir de hoje (12) até o dia 23, a Mostra Ecofalante de Cinema. Com temática socioambiental e entrada gratuita, o evento acontece simultaneamente na Sala Walter da Silveira e em mais 17 espaços culturais e educacionais de Salvador. A programação reúne 33 filmes de 16 países.
Entre as obras, estão películas premiadas, filmes internacionais, obras realizadas por grandes cineastas nacionais e até o lançamento de longas ainda inéditos no Brasil. A programação também prevê debates sobre o futuro da energia, racismo ambiental e direito à terra dos povos originários. O evento acumula um público de mais de 800 mil pessoas desde a primeira edição, em 2012, e tem ainda atividades de formação para professores, sessões para estudantes e programas infantis.
Além de Salvador, dois municípios da região metropolitana – Dias D’Ávila (de 24 a 29 de abril) e Camaçari (de 24 de abril a 06 de maio) – e dois municípios do Recôncavo – Cruz das Almas (31 de julho a 10 de agosto) e Cachoeira (31 de julho a 09 de agosto) – também receberão a Mostra ainda este ano. Chico Guariba, diretor da Mostra, destaca que não se trata de uma itinerância da Ecofalante. “A gente reconhece a riqueza cultural do território e a relevância da Bahia para o Brasil. Por isso, decidimos criar uma Mostra específica para o estado. É a Mostra Ecofalante na Bahia”, explica.
Ele destaca o ineditismo de algumas obras e o diálogo dos trabalhos com pautas caras e relevantes para o povo baiano. Na programação, chama atenção para os filmes que ainda não estrearam na Bahia e que são fundamentais porque trazem um panorama interessante de questões ligadas às temáticas da Amazônia e dos povos originários.
Negritude e racismo também estão presentes em diversos momentos da programação, com destaque para a exibição de dois títulos assinados por Sarah Maldoror, considerada a mãe do cinema africano e a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem na África. Com mais de 40 obras em sua filmografia, está na programação com duas obras. “Sambizanga”, de 1972, que apresenta o operário angolano, Domingo Xavier, ativista anticolonial que foi preso e torturado até a morte, em 1961. E “Uma Sobremesa para Constance”, de 1980, onde Maldoror se vale da comédia para tratar da imigração africana e do racismo em território Francês.
“São filmes que dão voz a discussões muito importantes e têm muita a ver com o território da Bahia, que tem diversos conflitos com indígenas e também problemáticas raciais fundamentais de serem discutidas. Tudo isso dá um caldo muito forte”, declara. O diretor da mostra conta ainda que, além dessas costuras dos filmes com o Abril Indígena e a conexão com o estado mais negro fora de África, traz para a Bahia lançamentos históricos.
“Estamos trazendo também para a Bahia a estreia de 10 longas internacionais com temáticas ligadas a racismo ambiental, emergência climática e economia”, diz. Guariba aponta também a diversidade da programação e das temáticas que prometem uma grande repercussão.
Abertura da Mostra
Motivados em discutir o genocídio nas aldeias, os enfrentamentos e as lutas pela reforma agrária, a Mostra Ecofalante traz para a noite de abertura o longa-metragem paulista, de Bruno Jorge, “A Invenção do Outro”. O filme remonta a expedição comandada pelo indigenista Bruno Pereira, na Amazônia, para encontrar e contatar indígenas isolados da etnia Korubo. A obra aplaudida e premiada como melhor filme do Festival de Cinema de Brasília, arrematou também os prêmios de melhor fotografia, montagem e edição de som.
Além da exibição do filme, a cerimônia de abertura conta com a participação do diretor, Bruno Jorge e dos cineastas Aurélio Michiles e Jorge Bodanzky presentes na Mostra com os filmes “Segredos do Putumayo”, investigação sobre denúncias de crimes cometidos por empresa britânica contra comunidades indígenas. O longa tem a direção e roteiro assinados por Michiles. E “Amazônia, A Nova Minamata”, de Bodanzky, que acompanha a saga do povo Mudukuru para reduzir os danos destrutivos promovidos pelo garimpo do ouro em seu território ancestral.
Debates, Formação e Educação
Além da diversidade dos filmes, a Mostra também promove o debate de três grandes temas: o futuro da energia, o racismo ambiental e o direito à Terra dos Povos Originários. Os três debates acontecem na sala Walter da Silveira (de 18 a 20/04, sempre às 20h) e têm a mediação do educador e ambientalista, Eduardo Mattedi.
Outro viés trazido pela Ecofalante na Bahia é a difusão da linguagem cinematográfica para conscientizar e sensibilizar as novas gerações para as questões socioambientais. Por isso, a Mostra prevê a circulação de filmes estratégicos em circuitos universitários e também sessões para estudantes de ensino médio, técnico e fundamental das redes estaduais e municipais de educação.
Entre as instituições que recebem o evento estão a Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Instituto Federal da Bahia (IFBA), Universidade Católica do Salvador (UCSal), Centro Universitário Estácio da Bahia e Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). A Mostra prevê também sessões nos colégios estaduais Rômulo Almeida, Vila Canária, Pedro Marques e Marques, Barros Barreto e Daniel Comboni.
O diretor da Mostra diz que há também um trabalho educacional. “Ao fazer essa parceria com o Governo do Estado, a gente se preocupou em fazer formação de professores. Já realizamos oito capacitações em audiovisual para educadores com o propósito desse trabalho ser multiplicado em sala, com os alunos. A ideia é potencializar o antes, o durante e o depois da exibição dos filmes”, declara Chico Guariba.
Os filmes exibidos nesse contexto fazem parte do Programa Ecofalante Universidades e conta com uma plataforma gratuita de filmes disponíveis para educadores e professores. Todo educador vinculado a uma instituição de ensino pode se cadastrar e agendar sessões gratuitas para seus estudantes através do site.
A programação completa pode ser acessada no site da Mostra.
Edição: Gabriela Amorim