Um assunto que não sai dos noticiários nas últimas semanas é o governo de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Profissionais de diversas áreas se dividem em 31 grupos técnicos e trabalham na elaboração de relatórios que visam diagnosticar a situação da atual gestão para orientar o novo governo com ações e medidas prioritárias. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, é o coordenador do Gabinete de Transição.
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Na região nordeste, onde o novo presidente teve uma votação bastante expressiva, vários nomes já estão garantidos em diferentes grupos técnicos de trabalho. Só na última semana, mais de dez nomes da Bahia já foram anunciados nas equipes. Deyvid Bacelar, Ailton Cardoso, Flávio Goncalves, Otto Alencar, Leone Andrade, Elisângela Araújo, Jonas Paulo, Yuri Silva, Margareth Menezes e Vilma Reis são algumas das personalidades que participam desta transição.
Na última terça (22), Alckmin também anunciou os nomes dos deputados e senadores que passam a integrar os grupos técnicos. Outros nove baianos foram somados à lista, dentre eles os parlamentares Lídice da Mata (PSB) no GT Mulheres, Alice Portugal (PCdoB) no GT Educação e Jaques Wagner (PT) no GT Centro de Governo.
Papel da equipe de transição
Para Renato Francischini, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), compreender o que essa transição de governo significa é fundamental para entender a sua importância no contexto atual.
“Essa equipe de transição tem 50 cargos e tem acesso a informações que são fundamentais para o planejamento do próximo governo. Informações sobre contas públicas, sobre administração pública, programas sociais, orçamento. Uma série de informações cruciais para o governo que vai assumir em 01 de janeiro de 2023”, destaca Francischini.
Renato lembra que, após o anúncio dos primeiros nomes do governo de transição, houve uma reivindicação da sociedade e grupos políticos do nordeste para que a composição da equipe não fosse centralizada em pessoas do sul e do sudeste.
“A equipe que vem sendo montada, além de refletir essa frente ampla, está tendo também um cuidado maior em trazer diferentes pessoas das diversas regiões do país”, afirma.
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O professor, que também atua como pesquisador do Grupo de Estudos sobre Democracia, Participação e Representação (Depare-UFBA), celebra a nomeação das indicações para a equipe de transição nas áreas mais diversas, desde economia, educação, cultura e povos originários, e diz que já é possível perceber nesse governo uma orientação muito próxima daquela que fez a campanha vitoriosa nas urnas no último dia 30 de outubro.
“No atual contexto, esse governo de transição tem ainda mais importância porque estamos passando de um governo cuja orientação era a destruição das capacidades do Estado, como a destruição do programa nacional de vacinação, das instituições de saúde e de ensino público, a exemplo da perseguição que foi promovida contra a universidade, a um governo eleito com compromissos muito diferentes”, comemora.
Comunicação e cidadania
O Diretor-geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), Flávio Gonçalves, comemora a oportunidade de colaborar para a comunicação social do governo federal e salienta a complexidade da área de comunicação para esse novo governo.
“A área da comunicação social é uma área muito diversa. Nós tratamos como o cidadão tem acesso a comunicação, como tem acesso à informação no seu dia a dia e hoje estamos vivendo um momento muito grave no mundo com muitas mentiras, as chamadas notícias falsas, fake news, que manipulam e enganam as pessoas no mundo todo”, afirma.
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O Diretor do IRDEB reconhece que é preciso gerar emprego, diminuir a desigualdade no Brasil e acabar com a fome, mas reforça que a comunicação social é um dos temas mais importantes e estratégicos na atualidade.
“Um dos principais desafios já hoje e nos próximos quatro anos no Brasil é de garantir que a população tenha acesso a informação verdadeira”, declara.
Flávio Gonçalves acredita em caminhos de progresso para a comunicação federal e para a comunicação pública também da Bahia. Ele afirma que o governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT) já incluiu no seu governo um conjunto de compromissos com a sociedade baiana de valorização da comunicação. Não por acaso, no dia seguinte à eleição do segundo turno, o novo governador deu a sua primeira entrevista ao vivo nos estúdios da TV pública e da rádio pública baiana.
“Isso é um feito que vai entrar pra história da comunicação pública na Bahia e no Brasil. Nem sempre os governadores eleitos valorizam as TVs e rádios públicas, mas o governador eleito Jerônimo se comprometeu no seu programa de governo em levar, por exemplo, o sinal da TVE para mais municípios no interior”, destaca Flávio, que há mais de cinco anos atua à frente da emissora.
Ele também acredita na possibilidade de ampliação do sinal da TV Educa Bahia, que foi criada em 2021 com a exibição de aulas para que os estudantes possam expandir os seus conhecimentos, e destaca o diferencial da linha editorial.
“Crescemos e ampliamos em termos de sinal para que os baianos possam ter acesso a conteúdo de qualidade. Não tem violência, não tem incentivo ao consumo, então eu tenho certeza de que nos próximos anos nós teremos a continuidade desse projeto”, comemora.
Agendas negras somam forças
A Bahia tem nomes negros de peso nas representações. Margareth Menezes, Viviane Ferreira, Vilma Reis, Yuri Silva são algumas das personalidades baianas que já confirmaram presença nessa transição de governo.
Com indicação coletiva de organizações do movimento negro, Yuri Silva é coordenador do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e uma das principais referências na luta antirracista no país. Homem negro, baiano, ele se diz muito feliz e ao mesmo tempo com uma grande responsabilidade.
“São 14 organizações nacionais históricas do movimento negro nesse espaço. Entidades como a CONEN, o MNU, os APNs, a UNEGRO, Círculo Palmarino, como a ABPN e tantas outras que me confiaram a tarefa de no governo de transição mais importante da história do nosso país representar as pautas do povo negro”, declara.
Yuri reconhece neste convite a oportunidade de contribuir na formulação de políticas públicas pra colocar a igualdade racial no centro do debate nacional.
“Não pode ser setorial uma política que trata de 56% da população negra, mas sim no lugar de uma política central, transversal, intersetorial, e que promova direitos, que promova ações capazes de mudar a realidade deixada pela chaga social da escravidão que vigorou durante 400 anos do nosso país”, afirma otimista.
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Yuri lê a conjuntura como desafiadora, mas segue firme e confiante em dias melhores para as pautas negras. “Depois de derrotar o fascismo nas urnas, a democracia e o respeito às diversidades, às minorias e maiorias vulnerabilizadas são a política que nos diferencia, são o antídoto ao ódio, ao rancor e à desconstrução”.
Nas redes sociais, a socióloga Vilma Reis também expressou o seu contentamento por fazer parte da equipe neste momento político. Ela diz que é tempo de esperançar e de construir com o povo que elegeu o presidente Lula.
“Sermos anunciadas na equipe de transição no dia em que a Marcha das Mulheres Negras completa sete anos é Aláfia. Com a força dos Movimentos chegaremos em Brasília para a construção coletiva inspiradas nas lutadoras que já fizeram esta batalha institucional: Luiza Bairros e Nilcea Freire”, diz a publicação, que já tem mais de 4 mil curtidas em menos de uma semana.
Confira os perfis de alguns dos nomes baianos anunciados para a Equipe de Transição
Ailton Cardoso - Advogado e Procurador do Estado na Procuradoria Geral do Estado da Bahia. Integra o GT Transparência, Integridade e Controle;
Deyvid Bacelar - Coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros, também foi representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás (2015-2016). Integra o GT Minas e Energia;
Elisângela Araújo – Coordenadora de Formação e Educação Profissional da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (CONTRAF-Brasil/CUT) e do Fórum Baiano da Agricultura Familiar. Integra o GT Desenvolvimento Agrário;
Flávio Gonçalves – Diretor-geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia. Já trabalhou no gabinete da diretoria-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Mestre em Políticas de Comunicação. Integra o GT Comunicação Social
Jonas Paulo Neres – Sociólogo, foi coordenador-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do estado da Bahia. Integra o GT Desenvolvimento Regional.
Leone Andrade – Diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI CIMATEC, complexo tecnológico localizado no Polo de Camaçari. Integra o GT Ciência, Tecnologia e Informação.
Margareth Menezes - Cantora, compositora e atriz, conquistou dois troféus Caymmi, dois troféus Imprensa, quatro troféus Dodô e Osmar, além de ser indicada para o Grammy Awards e Grammy Latino. Integra o GT Cultura.
Otto Alencar –Senador da República pela Bahia, reeleito. Foi governador, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa da Bahia. Integra o GT Desenvolvimento Regional.
Vilma Reis - socióloga e militante do Movimento Negro. Candidata a Deputada Federal nas últimas eleições pelo PT.
Viviane Ferreira – Advogada, diretora, roteirista, produtora e cineasta brasileira. Ativista do movimento de mulheres negras e fundadora da Odun Filmes. Integra o GT Comunicação Social.
Yuri Silva - Coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Coordenador de Direitos Humanos do Instituto para Reforma das Relações Entre Estado e Empresa (IREE). Integra o GT Igualdade Racial.
A lista completa das indicações pode ser conferida no site do gabinete de transição.
Edição: Lorena Carneiro