Patrimônio cultural reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o tabuleiro da baiana representa a Bahia mundo afora. No tabuleiro tem dendê, tem acarajé, abará, cocada. Tem sorriso fácil, carisma, indumentárias e todo jeito baiano de receber e de recepcionar baianos e visitantes que chegam para degustar, ou mesmo conhecer pela primeira vez, as iguarias. O que não pode ter nesses tabuleiros cheios de história e de representação é insegurança e desproteção.
Mulheres que se dedicam ao ofício tradicional de vender acarajé e outras iguarias das culinárias africana e afrobaiana se queixam da falta de segurança nas proximidades do Memorial das Baianas, na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico de Salvador. A Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau, Receptivos e Similares da Bahia (ABAM) se queixa de perdas sucessivas motivadas por saques no local. Rita Santos, Presidente da ABAM, informa que a sede da instituição tem sido saqueada constantemente.
“Desde que o Memorial foi concebido, em 2002, temos mais de 48 Boletins de Ocorrência”, declara Rita com preocupação. Só neste ano, a sede sofreu inúmeras subtrações.
“No mês de julho, em uma semana, levaram um toldo, as luminárias e o fio do ar-condicionado. Na semana seguinte, levaram outro toldo. Na terceira semana, mais um toldo e na quarta semana, outro”, relembra a presidente, que com muito esforço conseguiu comprar e recolocar os quatro toldos perdidos.
A alegria, no entanto, durou pouco. A história se repete e as ocorrências voltam a acontecer. Após dois meses da recolocação dos objetos, os toldos foram novamente roubados e retirados do local.
“No dia nove de outubro levaram um toldo e ainda colocaram um gradil, tipo escada, na janela da Santa Casa. Na semana seguinte, no dia quinze, levaram o segundo toldo”, declara Rita completamente indignada.
“Queremos mais segurança”, pede com urgência a presidente do Memorial. Ela destaca a existência de uma base da Polícia Militar a 20 metros do espaço e com passagem obrigatória para quem sai do Memorial, mas nem isso é impedimento para que os episódios de furto se repitam. “A polícia vem, olha e diz que se não tiverem câmeras não se pode fazer nada”, afirma.
As visitas ao Memorial das Baianas têm ingressos individuais a R$ 5,00. É com essa arrecadação e com a taxa mensal de R$ 12,00, investimento feito pelas baianas associadas, que o Memorial e a ABAM se mantêm de portas abertas. Esses recursos são destinados para o pagamento de muitos compromissos.
“Nós pagamos água, telefone, internet, material de escritório, material de limpeza”, declara Rita, que enumera as contas e reforça o valioso trabalho voluntário de quem atua no local. “Aí tem o valor do transporte que nem sempre posso dar. Tem o almoço, tem a água que temos que comprar”, destaca.
Preocupada com as condições de segurança no trabalho, Rita teme que, em um futuro breve, as atividades do Memorial sejam interrompidas pelo acúmulo de prejuízos causados pelas perdas. “Precisamos de medidas efetivas e diálogo constante e transparente com a Segurança Pública e todos os órgãos de proteção que atuam em nosso estado" afirma.
Entramos em contato com a ouvidoria da Polícia Militar da Bahia, mas até o momento não tivemos retorno. Nosso espaço segue aberto.
A história do Memorial das Baianas
Como o nome sugere, o Memorial das Baianas de Acarajé é um espaço dedicado à história e à tradição do ofício das baianas de acarajé. Mulheres que comercializam a comida típica da Bahia, feita com massa de feijão-fradinho e que leva pimenta, camarão seco, vatapá, caruru e salada.
O local conta com espaços expositivos e de documentação. O visitante encontra, por exemplo, adereços, artesanatos, fotos, indumentárias e alguns instrumentos gastronômicos utilizados por elas. Uma maneira de salvaguardar o ofício e de, ao mesmo tempo, mostrar para a população e para os visitantes como é, como começou e para onde está indo a profissão da baiana de acarajé.
Serviço
Memorial das Baianas de Acarajé
Endereço: Cruz Caída, Praça da Sé – Pelourinho, Salvador – BA.
Funcionamento: de segunda a sábado, das 10h às 16h.
Telefone: (71) 3322-9674
Edição: Lorena Carneiro