Bahia

Vacinação

Queda na taxa de imunização traz o risco de retorno da poliomielite, alerta infectologista

Apesar da meta de vacinar 95% do público-alvo, o índice ainda não chegou a 50% na Bahia

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Vacina contra poliomielite é aplicada em forma de gotinhas em crianças entre ume quatro anos - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou o Brasil como livre da poliomielite no ano de 1994, mas a doença, também conhecida como pólio ou paralisia infantil, está sob risco de retornar ao país. Com o propósito de reduzir essa possibilidade, o Ministério da Saúde deu início em agosto à Campanha Nacional de Imunização contra a poliomielite e de multivacinação. No entanto, a baixa adesão da sociedade preocupa a comunidade científica e traz a ameaça do retorno dessa e de outras doenças já erradicadas.  

Apesar da gravidade e das sequelas provocadas pela pólio, o Brasil ainda não cumpriu a meta de 95% do público-alvo vacinado. De acordo com a OMS, este é o percentual necessário para que a população esteja protegida contra a doença. Na Bahia, a cobertura vacinal da pólio, por exemplo, não chegou a 50%. Para a infectologista Ceuci Nunes, ex-diretora do Instituto Couto Maia, hospital de referência para o tratamento da Covid-19 e outras doenças infectocontagiosas na Bahia, mesmo com o melhor programa nacional de imunização do mundo, o Brasil tem cometido falhas. 

“Eu entendo que as quedas na vacinação são os grandes responsáveis por isso, e o nosso programa nacional de imunização tem falhado em não fazer campanha de educação para a necessidade de vacinação”, afirma Ceuci, defensora de grandes campanhas de conscientização das pessoas. Ela nos lembra que o último caso de poliomielite registrado no Brasil aconteceu em 1989, na Paraíba. No entanto, com a combinação de queda das coberturas vacinais, a globalização e a existência de poliomielite em outros lugares do mundo, há um risco real da pólio retornar por aqui.

Investimento na ciência e combate às fake news

Recentemente, o mundo todo reconheceu o valor da pesquisa e da ciência com a descoberta da vacina da Covid-19. Essa foi a prova mais recente de que as vacinas de fato salvam vidas. Para Nunes, a vacinação para Covid no Brasil nos prova a importância de ter - desde a década de 70 - um programa nacional de imunização extremamente ativo e combativo às mentiras. 

“As fake news tinham uma circulação muito restrita no país e a população tem essa cultura de vacinação. As crianças quando nascem já saem da maternidade vacinadas para algumas doenças. Isso é muito importante para a confiança na vacina. Infelizmente, as fake news relacionadas à covid também atingem as outras imunizações”, declara.

Outro aspecto que a infectologista destaca é que a vacina sofre do seu próprio êxito. “‘Por que que eu vou vacinar contra o sarampo, se o sarampo não existe?’ O que temos que fazer a população entender é que essas doenças não existem porque nós tínhamos coberturas vacinais elevadas e que no momento que a gente começa a baixar as coberturas vacinais, a população fica suscetível e pode haver a reintrodução dessas doenças no nosso território nacional”, ressalta Ceuci.

A médica também defende que investir na ciência é uma demanda permanente e que deve ir além de situações emergenciais. Por isso, as verbas federais precisam ser mantidas para garantia de pesquisa em vacinas. “No Brasil, nós temos dois centros importantíssimos capazes de fabricar vacinas, que são a Biomanguinhos, da Fiocruz (RJ) e o Instituto Butantan (SP), responsáveis pela grande maioria das vacinas que nós fazemos no nosso programa nacional de imunização. Os dois são frutos de grandes investimentos científicos”, declara.

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Ceuci pontua a urgência de investimentos, tendo em vista que a dotação orçamentária da ciência tem se reduzido. “Isso preocupa também para o futuro. Para o desenvolvimento de novas e melhores vacinas”, reforça. A infectologista reconhece que a Bahia, assim como diversos outros estados do Brasil, está com baixa cobertura, mas que essa é uma responsabilidade do governo federal.

“É o governo federal quem faz a aquisição e a distribuição das vacinas para os estados, que por sua vez distribuem as vacinas nos seus territórios. Já os municípios fazem chegar as vacinas à população através dos postos de saúde”, conclui.   

Dezoito vacinas fazem parte do calendário nacional de vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que este ano completa 49 anos. A iniciativa previne doenças como a poliomielite, sarampo, rubéola, caxumba, dentre outras. 

Edição: Lorena Carneiro