Moradores das comunidades no entorno de Licínio de Almeida, no alto sertão da Bahia, interditam desde segunda-feira (26) a estrada de chão que integra a linha de escoamento do minério de ferro, extraído pela Bahia Mineração (BAMIN), que vai de Licínio até Brejinho das Ametistas. A população segue ocupando a região e reivindica diversas melhorias, como pavimentação, acesso à saúde, incentivo à agricultura familiar e um melhor acompanhamento sobre as questões da bacia hidrográfica na região. O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) está presente na ação.
"Atuamos na região de Caetité, nas comunidades de Açoita Cavalo, Curral Velho, João Barroca e Cachoeira, que são impactadas diretamente pelo projeto. Açoita Cavalo, por exemplo, está só a 4 km da mina. Os estrondos e todo o processo de poeira que vocês estão passando aqui só com o translado dos caminhões, eles estão passando direto da mina. A gente vem trabalhando com a comunidade de Taquaril dos Fialhos, fizemos assembleia em Cachoeira dos Periquitos, em Barreiro, porque a gente percebe que é uma demanda única das comunidades", afirma o militante do MAM, Rafael Nunes.
"Vocês estão reivindicando direitos, seja de pavimentação, seja pela agricultura familiar. As comunidades aqui, em geral, têm mais de 200 anos. Não é justo a empresa do Cazaquistão vir aqui, explorar o território por 30 anos, e ir embora, deixando só as mazelas. E os filhos de vocês vão beber água de onde? Vão comer qual alimento?", indaga Nunes.
Desde 2020, a mineradora extrai cerca de 1 milhão de toneladas de minério de ferro da Mina Pedra de Ferro por ano. Esse material é transportado via caminhões, em estradas que passam por Licínio de Almeida, deixando um rastro de poluição com o pó do minério de ferro que é dissipado das cargas, afetando as comunidades de Brejo, Barreiro, Louro, Boiada, São Domingo, Riacho Fundo e Taquaril dos Fialhos.
Cotidiano insalubre
A última manifestação das comunidades pedindo o asfaltamento foi em setembro de 2021. Muitas pessoas presentes no ato relataram um cotidiano insalubre pelo transporte de ferro nas estradas de terra, com problemas centrais envolvendo a circulação de veículos de grande porte. Além do levantamento da poeira, da contaminação do ar e solo, o acesso e uso da água têm sido dificultados. A empresa utiliza água de poço para lavar a pista, o que compromete o uso da água pelas famílias, dificulta a produção de alimentos, como hortaliças, milho, feijão, farinha de mandioca, e o cuidado com a criação de animais.
"Não aparece ninguém pra dar uma solução pra gente. Não temos água, e eles (a mineradora) jorrando água nas estradas todos os dias, toda hora. Eles não podem oferecer nem 200 litros de água pra gente. Ficamos nesse prejuízo, cada dia a saúde da gente fica mais comprometida", desabafa Dona Maria Aparecida, moradora do local.
Além dessas denúncias, os moradores falam sobre as sucessivas tentativas de compra das terras por preços irrisórios, numa intimidação clara de abuso de poder político e econômico em troca das terras. "Por enquanto não tenho interesse em vender a terra pra sair por aí sem rumo e sem destino com meus filhos. É aqui onde eu posso viver sossegada", complementa Maria Aparecida.
A ocupação segue na estrada aguardando ações mais efetivas da empresa e do poder público. O Pelotão de Emprego Tático Operacional foi enviado para conter o bloqueio.
Até o momento, a empresa não se manifestou sobre a ação.
Edição: Lorena Carneiro