Na última segunda-feira (19), o Quilombo Fortaleza, em Bom Jesus da Lapa (BA), foi invadido por uma caminhonete com seis homens armados e fardados com colete de empresa de segurança. Lideranças da região contam que tiros foram efetuados e um dos carros rondou as casas, amedrontando as famílias. Houve também a retirada criminosa de animais do local. “Nós estamos pedindo às autoridades que tomem providências, que venham nos socorrer, já que estamos convivendo com ameaças e tentativas de retirada dos moradores”, comentou um integrante da comunidade.
Desde 2017, as famílias sofrem ameaças mais graves na defesa da posse coletiva, o que gerou ações judiciais na Justiça Federal de Bom Jesus da Lapa (BA). Em 11 de julho de 2019, foi concedida liminar de manutenção de posse contra um dos grileiros que tentam invadir o território tradicional. Nele vivem 120 famílias, que reivindicaram e foram certificadas como quilombo em 2012 pela Fundação Cultural Palmares (FCP). A maior parte da área é de domínio da União, por se tratar de margem de rio federal, e existem processos na Secretaria de Patrimônio da União, desde 2016, e no Incra, desde 2013, para demarcação e titulação do território - ainda sem conclusão.
Ameaças constantes
Não é a primeira vez este ano que o Quilombo Fortaleza passa por uma situação de ameaça a mando dos mesmos grileiros. Há cerca de dois meses, no dia 29 de julho, a comunidade denunciou a invasão de três policiais civis do estado de Sergipe na comunidade. Segundo relato dos/as quilombolas, os agentes chegaram armados, com colete e em veículo oficial, porém sem placa, e os abordaram, exigindo que as famílias fossem embora da comunidade, com a justificativa de que a terra, ocupada pela comunidade há gerações, teria sido comprada por outra pessoa. “Atiraram para cima duas vezes”, destacou morador, que também afirma que a abordagem foi extremamente agressiva e não culminou em uma ação mais violenta devido à aglomeração de um número expressivo de quilombolas no local.
Em outra ocasião, no dia 19 de julho, chegaram à comunidade dois caminhões carregados de gado, acompanhados por seis homens aparentemente armados e acompanhados de vaqueiros e soltaram os animais em mais uma tentativa de fraudar uma suposta posse do território tradicional e intimidar a comunidade. Ataques como estes tornaram-se mais frequentes no campo nos últimos anos. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, nos três primeiros anos do Governo Bolsonaro foram registrados 5.725 conflitos por terra, mais do que em todos os outros governos do período democrático.
Desdobramentos
O Ministério Público Federal, após receber as denúncias na noite da segunda, se dirigiu nesta terça (20/09) até o local acompanhado da Polícia Federal com o objetivo de coibir violações e levantar informações sobre o conflito. As famílias têm expectativa de que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados. Além disso, aguardam que o Incra, a Superintendência do Patrimônio da União na Bahia (SPU/BA), a Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA/BA) e outros órgãos responsáveis pelo andamento da titulação das terras acelerem os processos, garantindo o direito constitucional ao uso do território tradicionalmente ocupado.