Bahia

Coluna

Universidade num contexto de Economia criativa, reindustrialização verde e Revolução 4.0 – P. 3

Imagem de perfil do Colunistaesd
Polos de cinema e audiovisual são promissores e têm um forte potencial econômico - Levante Popular da Juventude
Uma nova fase de expansão, interiorização, de cursos noturnos das universidades federais é essencial

Em continuidade à nossa reflexão sobre um projeto de nação, de Educação, de Cultura e de Universidade do artigo anterior, abordaremos neste momento os elementos da Economia da Cultura, da necessidade de um novo plano de expansão e da consolidação de uma concepção de Universidade. 

Uma política de Ciência, Tecnologia e para a Universidade deve compreender o papel central da Economia Criativa ou Economia do Conhecimento, ao lado das prioridades da Revolução 4.0, da Bioeconomia, da Biodiversidade e da transição socioecológica. O núcleo dessas indústrias criativas, que são mais amplas que as indústrias culturais, têm como exemplos: Educação, Artes Cênicas, Artes Visuais, Música, Filme e Vídeo, Tv e Rádio, Mercado Editorial, Software, Tecnologia da Informação, Computação e Telecom, Pesquisa e Desenvolvimento, Biotecnologia, Arquitetura e Engenharia, Design, Moda, Expressões Culturais, Publicidade, dentre outros. 

O déficit de mão de obra em TI no Brasil está em centenas de milhares de vagas. Em um cenário de 11,3 milhões de brasileiros desempregados, sobram vagas no setor de TI por falta de profissionais. O setor foi responsável por 7% do PIB de 2018 e demanda 420 mil novos empregos entre 2018 e 2024 no país. Esses números fazem parte de relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Essa é uma área que demanda um olhar específico e prioridade da Universidade, assim como a indústria do audiovisual, dentre outras. 

Polos de cinema e audiovisual são igualmente promissores e com potencial econômico forte. O fundo do audiovisual da época de Lula não foi desmontado, embora o presidente Jair Bolsonaro tenha cortado 43% do orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual. Mesmo assim, o fundo, administrado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), teve R$ 415,3 milhões em 2020 e R$620 milhões em 2022. É o menor valor real desde 2012, mas mesmo assim é expressivo, e há investimentos privados. Apenas a Netflix investiu R$ 350 milhões em produções originais brasileiras em 2020. E no momento da Pandemia, a Netflix liberou mais 5 milhões para ajudar os profissionais do audiovisual afetados, e outras empresas têm muito investimento também.

Uma nova fase de expansão, interiorização, de cursos noturnos das universidades federais é essencial, depois de garantidas e recompostas as condições orçamentárias das atuais universidades e de seus campi. Hoje ainda temos apenas 21% dos jovens de 18 a 24 anos na Educação Superior, e a maior parte desses em instituições privadas. Deve ser um projeto de expansão das universidades públicas pactuado com os reitores das federais e com participação social na definição das prioridades. Será necessário um novo processo de expansão que preserve a qualidade e favoreça um modelo de Universidade engajada com um projeto de soberania, inclusão e desenvolvimento científico e cultural do país. 

Essa recomposição das condições orçamentárias e de pessoal e uma nova expansão devem estar acompanhadas da construção e consolidação de um conceito de Universidade da Ciência, da Cultura, das Artes e da Tecnologia, com uma missão civilizatória e de construção de um novo projeto de nação junto a todos os atores da Sociedade. O conceito de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro de Universidade, inaugurado com a Universidade do Distrito Federal (UDF) em 1935 e com a Universidade de Brasília de 1961, abarcava o conceito de excelência acadêmica, trazendo pesquisadores de todo o mundo para constituir uma pós-graduação forte e grupos de pesquisa com relevância, mas um projeto de Universidade engajado, segundo esses pensadores da Educação, a um projeto de Nação Soberana, que só seria completo com uma soberania científica, tecnológica e cultural e que objetivasse resolver os grandes problemas nacionais, como a fome, a desigualdade, as diferenças regionais, a falta de uma industrialização mais forte. Hoje esse projeto de soberania envolve uma economia e sociedade sustentáveis ecologicamente e a superação do racismo, das exclusões territoriais urbanas e rurais, das discriminações e a consolidação da Democracia.

A Universidade deve preservar o conceito de Universidade de Pesquisa do modelo alemão de Humboldt e de Universidade para o desenvolvimento da comunidade e do país, dos Estados Unidos. Ao lado dessa visão, continuar a assimilar a contribuição da Reforma de Córdoba da Argentina de 1918, que sensibilizou a instituição para as questões sociais, a gratuidade, a laicidade e a Democracia interna.

 

*Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Lorena Carneiro