A estrutura sistêmica do racismo faz com que ele influencie nos mais diversos âmbitos da vida das pessoas racializadas, inclusive, na saúde. “No campo da saúde, o racismo de base institucional aparece situado dialeticamente entre a insuficiência sentida na invisibilidade institucional e o excesso materializado na discriminação racial”, explica Diana Anunciação, professora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), coordenadora do GT Racismo e Saúde e vice-diretora da atual gestão da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e membro do Comitê Técnico Estadual de Saúde da População Negra da Bahia.
Ela explica que, no cotidiano, o racismo institucional na saúde acarreta na falta de capacitação e de formação dos profissionais da saúde, bem como na ausência de indicadores sociais e uma subnotificação do quesito cor nos sistemas de informação que dariam visibilidade à condição de saúde da população negra. “Outra questão é a invisibilidade das doenças prevalentes na população negra, como diabete mielitus, hipertensão arterial, anemia falciforme, dentre outras. E a não aplicabilidade e negação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, destaca.
Outro ponto importante ressaltado pela professora Diana é o fato de a população negra depender quase majoritariamente do Sistema Único de Saúde (SUS), que é negligenciado justamente por ser caracterizado como um lugar de pobre. “Mas, sobretudo, por ser caracterizado como um lugar de negros e negras”, esclarece.
Para Diana Anunciação, o problema não está apenas na postura ou na ação dos e das profissionais de saúde, que muitas vezes manifestam o racismo interpessoal, mas também na falta de cuidado integral e na forma como as instituições de saúde estão estruturadas. “O não acesso à saúde ou o acesso precarizado de considerável parcela da população brasileira, que é a população negra, ratifica a presença do racismo institucional, do racismo interpessoal e do racismo estrutural em nosso país”, aponta a vice-diretora da Abrasco.
Alguns caminhos para vencer esses obstáculos na saúde, segundo ela, seriam a capacitação permanente e continuada aos profissionais de saúde nas especificidades, no acolhimento, no atendimento e no cuidado da população negra, além de visibilizar e proporcionar viabilidade para o campo científico para análise das doenças que são prevalentes na população negra. E ainda considerar o racismo como determinação social de saúde no diagnóstico, no tratamento e no prognóstico, como fator de agravamento da situação de saúde da população negra; inserir os indicadores sociais e, ao mesmo tempo, preencher adequadamente fazendo a notificação do quesito cor nos sistemas de informação; e, por fim, a aplicabilidade prática nos espaços institucionais da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Edição: Elen Carvalho