Bahia

EDUCAÇÃO PÚBLICA

A importância das Artes e da Educação Física na educação básica

Professoras falam o que suas experiências dizem sobre a importância destas disciplinas na formação das crianças

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
A Educação Física permite trabalhar de maneira interdisciplinar diversos aspectos sociais, de acordo com professora. - Camila Souza/GOVBA

No início deste ano, a Secretaria Municipal de Educação de Salvador demonstrou intenção de realizar alterações no ensino das disciplinas Educação Física, Artes e Inglês no ensino fundamental. A proposta era que nas séries iniciais, primeiro e segundo ano, os professores destas disciplinas fossem substituídos por pedagogos, e então os professores de Artes, Educação Física e Inglês ficariam responsáveis por atender turmas das séries superiores. A intenção levantou protestos por parte de professores, pesquisadores e movimentos populares e levantou uma reflexão sobre qual a importância do ensino das Artes e da Educação Física para a formação básica.

Rosimeire dos Santos, professora de Educação Física e especialista em atividade física no contexto da educação básica, diz que, como o movimento faz parte da natureza humana, a Educação Física é essencial no processo de desenvolvimento do indivíduo. “Dentro da educação básica, a educação física aborda a cultura corporal. Que desenvolve ações, que leva os alunos à reflexão sobre as atividades propostas, não se limitando à prática, mas fazendo com que a teoria tenha importância. Um exemplo é quando trabalhamos o conteúdo vôlei. Abordamos o histórico, fundamentos, formas de jogar em espaço formal e informal. A importância de trabalhar em equipe para fazer pontos, respeitar os adversários, aprender a ganhar e perder, respeitar as limitações dos colegas e aprender que as aprendizagens acontecem de forma diferente para cada um”, diz Rosimeire.

Rosimeire trabalha com Educação Física há dez anos e compartilha que a disciplina é essencial nas escolas, porque possibilita que as crianças possam socializar e aprender com a convivência. “Eu estou inserida nesse contexto, eu ensino numa escola municipal dentro de uma comunidade que é bastante violenta. Então nas aulas de educação física é um momento que eles têm para praticar, para conhecer um esporte novo. Já que a rua é violenta, não dá pra brincar na rua, na escola dá pra brincar sim, se divertir, interagir, socializar com os coleguinhas, aprender a dividir, a respeitar. Então a educação física dentro da escola municipal é extremamente importante”, destaca.

Ela ressalta que não se trata apenas de esporte, a Educação Física permite trabalhar de maneira interdisciplinar diversos aspectos sociais. “Normalmente existe uma visão errônea da sociedade quando se fala em educação física. A pessoa fala logo de esporte, de corpos perfeitos, mas não é isso, a gente trabalha o social, o psicológico, o físico e o mental. Então é uma disciplina interdisciplinar que perpassa história, geografia, física e química. E, dessa forma, a gente consegue formar indivíduos completos. Entregar indivíduos prontos para a sociedade, porque você consegue linkar problemas sociais ao esporte e, a partir daí, você pode tratar, discutir com o aluno, levar reflexão sobre determinados assuntos”, observa Rosemeire.

A professora de Artes Cênicas e pesquisadora Andrea Rabelo acredita que as linguagens artísticas são essenciais na formação do sujeito. “Por isso é tão importante que ela faça parte como conteúdo, como disciplina da base curricular do ensino fundamental, numa fase em que a pessoa, em que o ser está em formação. Então é preciso que se tenha acesso às diversas áreas de conhecimento, sendo a arte uma delas. Muitas vezes negligenciada, diminuída na sua importância, porém a arte é fundamental também, porque ela fundamenta um contato, um reconhecimento do próprio corpo e a relação desse corpo com o outro, com o espaço, a possibilidade de intervir no mundo criativamente, de ter um olhar sobre esse mundo criativo e de interagir criativamente também”, afirma.

Andrea relata que sua experiência em sala de aula a partir do teatro demonstra que é um espaço para exercício da liberdade e encontro com a identidade. “O momento em que eu posso trabalhar com essas crianças, e elas comigo também, um reconhecimento da própria identidade, dos elementos culturais que fazem parte do lugar onde a gente habita, onde a gente coexiste, onde a gente se relaciona. A arte é um momento, quando eu vou entrar na na na sala de aula, os alunos me recebem com gritos, com aplausos, porque é o momento dentro da escola que eles realmente têm espaço para interagir de outras formas, com esse ambiente que é tão engessado e que está ainda com formatos talvez até ultrapassados, digamos. Que ainda não está se relacionando plenamente com a nossa modernidade”, compartilha.

Ela conta ainda que, em praticamente todas as escolas públicas que lecionou, não havia estrutura de pátio para que os alunos pudessem correr e se mover livremente.  “A aula de arte é o momento realmente em que eles podem se mover. Então é um espaço em que eles vão reconhecendo uma potência desse corpo, né? Um corpo que é sensível e que comunica. Já que a comunicação não se dá apenas através da linguagem oral. Grande parte da nossa comunicação se dá através do nosso corpo, da nossa atitude, do nosso comportamento. Então a arte eu vejo uma grande potência dentro da sala de aula e eu vejo mesmo nas circunstâncias estruturais defasadas em que a gente tem as nossas escolas. Eu vejo pequenas luzes se acenderem no no processo de ensino e aprendizagem, que são recompensadores apesar de toda a dureza diária que é você estar na sala de aula”, conclui Andrea.
 

Edição: Elen Carvalho