A hora é essa. Por mais negros, indígenas e mulheres de esquerda na política.
Chegamos a um ano decisivo para a democracia e o futuro do nosso país. O momento não exige outra coisa: é hora de ir para rua. Mais do que necessário, se faz urgente agora avançar na mobilização popular e começar a sensibilizar os eleitores, chegando às massas populares e mostrando nossa “mobilização militante e o programa popular” para “derrotar o neofascismo e o neoliberalismo”. Obviamente, deixando claro o que isso significa: combater as desigualdades sociais, a falta de investimento na educação, o racismo, o feminicídio, as mazelas, o desemprego, a inflação, a fome e principalmente a pobreza.
E este papel não pode ser melhor desempenhado pelos Comitês Populares de Luta, que em Salvador, já se formou e tem realizado atividades nas ruas nesse sentido. Por entender o tempo como precioso, nos próximos meses a campanha tem que ser feita diretamente junto ao povo, no porta em porta, no diálogo e com a população que representa a maioria afetada por essas desigualdades, entre ela as mulheres. Para se ter uma ideia, a pobreza e a extrema pobreza alcançaram em 2020 na América Latina níveis que não foram observados nos últimos 12 e 20 anos, respectivamente, bem como uma piora dos índices de desigualdade na região e nas taxas de ocupação e participação no mercado de trabalho, sobretudo das mulheres, conforme observou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). O Brasil voltou ao Mapa da Fome, que havia saído durante os governos de Lula.
Diante desse quadro grave, e desse cenário eleitoral, precisamos ter em mente vários pontos. E aí que vem os comitês populares. Vivemos hoje em dia em uma sociedade consumida pelas redes sociais e pela internet, mas não podemos deixar de levar em conta que as relações humanas, o poder do convencimento e da fala ainda é extremamente forte para modificar nossa forma de ver, pensar e enxergar a realidade.
Por isso, os comitês são fundamentais: fazem essa ponte, dialogam com potenciais eleitores em lugares do cotidiano, como o trabalho e a comunidade, e em locais com grande circulação de pessoas nas cidades.
Objetivamente, devemos levar, sim, em conta, todo o papel do mundo digital em que estamos inseridos e como eles nos afetam cotidianamente. Mas acima disso, traçar estratégias nessa área, principalmente, diante dos atos criminosos daqueles que representam o retrocesso, como as fake news, os vídeos falsos, as imagens manipuladas.
Especialistas, estudiosos e a nossa própria experiência na política, tanto institucional como de base, nos mostram que a melhor maneira de combater as mentiras e as fake news é criando vínculos e confiança com as pessoas. E isso se fará reavivando com mais intensidade um dos princípios do PT, que são a construção de núcleos e comitês enraizados em bairros, nas periferias, nos interiores do país.
Para entender melhor e aperfeiçoar esse processo, só a rua vai nos ensinar, pois é lá onde estão as pessoas que sofrem com os desmontes de políticas públicas e demais retrocessos: o povo pobre, os povos negros, indígenas e as mulheres.
Os Comitês Populares de Luta devem fortalecer ainda mais o papel das mulheres e as terem também na prioridade: somos as mais afetadas com a pandemia em todas as áreas, e ainda vivemos uma realidade machista na política brasileira: apesar do eleitorado feminino corresponder a 52% da população brasileira, elas são 15% dos deputados federais e dos senadores, enquanto nas Câmaras e prefeituras, as mulheres eleitas apresentaram um discreto aumento em relação a 2016 —de 31,9% para 33,2% em 2020. Nas prefeituras, mulheres foram eleitas em apenas 12,1% de municípios (659).
O desafio do ano de 2022 é reverter esse cenário, principalmente na Bahia, com o apoio dos movimentos sociais e o entendimento dos partidos de esquerda de que precisamos de mais mulheres nos espaços de poder para combater os constantes retrocessos, como o abandono da Casa da Mulher, rebaixamento do Ministério da Mulher à secretaria, redução de orçamentos no combate à violência, o aumento do feminicídio e os ataques às candidaturas femininas.
Um comitê popular não significa que ele esteja cheio de militantes partidários. Mas sim de todos que defendem a democracia, os direitos humanos, o desenvolvimento social do Brasil. Cada simpatizante com uma missão de conversar com as pessoas e apresentar propostas para reconstruir e transformar o país. Os comitês devem ser espaços que reúnem e acolhem todas as pessoas que querem participar das lutas em cada lugar e contribuir para transformar a vida do povo. Podem ser organizados “por rua, comunidade, bairro, cidade, local de estudo, local de trabalho, luta setorial, pré-candidaturas”.
É importante, também, estarmos distantes do clima de ‘já ganhou’ que afasta as pessoas. O que precisamos, nesse momento, é o trabalho de base e, em Salvador, esta capital da resistência, este trabalho já vem sendo desenvolvido desde fevereiro, com reuniões que ocorrem no bairro Dois de Julho, e com atividades que já percorreram as principais feiras da cidade. A hora é essa. Por mais negros, indígenas e mulheres de esquerda na política: vamos botar o bloco na rua!
Edição: Jamile Araújo