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SAÚDE E COMUNIDADE

Por que é importante falar sobre o suicídio?

Fenômeno complexo e multideterminado, trata-se da segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo

Brasil de Fato | Lençóis (BA) |
Como prevenção, Avimar defende uma ação coordenada de políticas públicas de saúde e assistência social, junto com o esclarecimento da população em geral.
Como prevenção, Avimar defende uma ação coordenada de políticas públicas de saúde e assistência social, junto com o esclarecimento da população em geral. - Agência Brasil

O suicídio ainda é um tema tabu na nossa sociedade, embora seja a segunda causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que essa seja a causa de morte de 800 mil pessoas a cada ano no mundo. Ou seja, um número maior do que o de óbitos em todas as guerras em andamento.

O psicólogo Avimar Ferreira Júnior, doutor e pós-doutor em Psicologia, estuda o tema do suicídio há 17 anos. Ele explica que o número de mortes por suicídio pode ser ainda maior. “Boa parte dos pesquisadores acreditam que esses números são subestimados, dado que nem todos os países possuem registros confiáveis, inclusive por conta dos tabus sociais e religiosos nos quais o suicídio está envolto. Isso dificulta até mesmo ações de prevenção”, esclarece o pesquisador. 

Avimar explica que o suicídio é um fenômeno complexo e multideterminado e, atualmente, um grave problema de saúde pública. “Para compreender o suicídio, devemos considerar todos as dimensões da vida humana, tanto o contexto social e histórico, bem como as singularidades da história de vida de cada sujeito. Inclusive questões biológicas e psicológicas, como a depressão e o transtorno bipolar”, acrescenta. 

As pesquisas mais recentes na área têm apontado também o impacto que a dimensão social tem tanto na saúde física quanto psicológica da sociedade como um todo. E também na maneira como as pessoas lidam com as dificuldades que se apresentam nas suas vidas. “Questões como dificuldades econômicas, desemprego, racismo, violência de gênero, homofobia, bullying e desigualdade social impactam diretamente nos índices de suicídio”, afirma Avimar Júnior.

Uma explicação possível sobre o porquê os sujeitos se suicidam é de que isso ocorre quando uma pessoa enfrenta um sofrimento psíquico insuportável, sem esperanças de que esse cessará num futuro próximo. “Quanto mais suporte social, material e simbólico o sujeito sentir disponível para ajudá-lo com esse sofrimento, menor será sua propensão ao autoextermínio”, destaca o psicólogo. Ele acrescenta ainda que Organização Panamericana de Saúde (OPAS) alertou que a pandemia de covid-19 exacerbou os fatores de risco associados a comportamentos suicidas e pediu pela priorização da prevenção ao suicídio, principalmente devido ao aumento de fatores de risco como o isolamento social, os sentimentos de solidão e desamparo, as perdas econômicas e o aumento da violência doméstica.

Na prevenção do suicídio, o especialista defende a necessidade de uma ação coordenada de políticas públicas de saúde e assistência social, juntamente com o esclarecimento da população em geral sobre o tema e sobre o sofrimento psicológico. “A prevenção do suicídio é uma tarefa hercúlea, complexa, mas fundamental e necessária, que passa pela elaboração de políticas públicas centradas no SUS e no SUAS”.

Edição: Elen Carvalho