Em meio às pressões do governo da Bahia para que deputadas e deputados aprovem o Projeto de Lei 24.362/2021, trabalhadoras e trabalhadores da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) se mobilizam para impedir que o PL seja aprovado. A votação estava prevista para acontecer na quarta-feira, dia 16 de fevereiro. Na ocasião, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no estado da Bahia (Sindae Bahia) realizou ato em frente à Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), e, desde então, a categoria e representantes da sociedade civil já se reuniram com o governador Rui Costa, com a bancada do PT na Assembleia Legislativa, além de terem realizado atos públicos.
O PL 24.362/2021 é de autoria do Poder Executivo e foi apresentado à Assembleia Legislativa da Bahia em novembro do ano passado. De acordo com o texto, a Embasa poderá coligar-se e associar-se com outras pessoas jurídicas de direito público ou privado, inclusive participar e formar consórcio; poderá constituir ou integrar Sociedade de Propósito Específico (SPE), de capital aberto ou fechado, para participar de licitações na área; ou subconceder parte de suas atividades a terceiros com anuência prévia dos entes concedentes envolvidos na concessão. O que os sindicalistas afirmam é que, na prática, tal medida significa privatizar a Embasa.
Grigorio Rocha é coordenador geral do Sindae Bahia e explica o que os trabalhadores e trabalhadoras do setor avaliam do projeto: "Esse PL dá poderes para a empresa fazer Sociedade de Propósito Específico (SPE), em especial, inclusive, tendo participação sumária minoritária nessa SPE. Só que lá no parágrafo 5°, ele diz que caberia a Assembleia dos acionistas da Embasa a decisão sobre essas SPEs, o que é inconstitucional, uma vez que cada sociedade de propósito específico tem que ser aprovada por lei específica enviada para a Assembleia Legislativa".
O governador Rui Costa (PT), em mensagem encaminhada às deputadas e deputados, afirmou que o PL é necessário para adequação ao marco legal vigente. Sobre isso, Grigorio argumenta: "Essa lei que foi aprovada no Congresso Nacional, que alterou o marco regulatório do saneamento, tem o objetivo de privatizar o saneamento. Então, adaptar a empresa à essa lei é uma forma também de entregar a empresa. A gente entende que não tem nenhuma necessidade desse projeto de lei da Bahia sequer existir".
Em termos práticos, uma possível privatização da empresa de saneamento na Bahia acarretará prejuízos para toda a sociedade. É o que explica Grigorio ao recuperar experiências internacionais: "Na década de 1990 teve um surto privatista, em que os serviços de água e esgoto foram privatizados em várias cidades da Europa e Estados Unidos, e depois, nos anos 2000 ,foram reestatizados, porque a privatização foi um desastre, tendo em vista que as empresas de saneamento não faziam os investimentos que eram prometidos, piorando a qualidade do serviço".
O sindicalista observa ainda que não existe portabilidade do serviço de saneamento, fazendo com que este se configure como um monopólio natural. "Você vai entregar o monopólio à empresa privada, que só quer lucrar? Você não tem como deixar de beber água. Isso pode deixar o cidadão refém de um empresário. Isso é um absurdo", enfatiza Grigorio. Ele também pontua sobre o aumento do custo final do serviço para a população: "A gente tem muita preocupação com relação a isso. Estamos vendo o que está acontecendo com a Petrobras, que está sendo fatiada e privatizada aos pedaços e o preço da gasolina está sendo dolarizado e você tem aumentos exponenciais na gasolina. Com a água pode acontecer a mesma coisa".
Edição: Jamile Araújo