As notícias diárias sobre racismo e outras violências contra a população negra no Brasil são cada dia mais abundantes. Diante deste estado de violação de direitos, tem se fortalecido nos estudos e práticas de psicologia, psiquiatria e psicanálise o debate e o fazer sobre a saúde mental da população negra, enquanto recorte necessário.
“A existência negra consciente vai se revezar entre o luto, o medo de morrer precocemente e o pavor de perder pessoas pretas próximas. O que repito em toda oportunidade é: isso é uma questão de saúde”, ressalta Wafina Kuti, psicóloga clínica no SUS, especialista em Psicologia, Avaliação e Atenção à Saúde, diretora do Sindicato dos Psicólogos e Psicólogas da Bahia e membra da Associação Nacional de Psicólogos Negros.
Ela explica ainda que o conceito de saúde mental da população negra preciso ser visto em toda a sua complexidade, uma vez que este grupo engloba vários outros grupos sociais com diversas especificidades: homens, mulheres, idosos, crianças, pessoas LGBTQIA+, população de rua, habitantes das águas, mares e florestas, imigrantes e refugiados. “Cada contexto vai demandar providências específicas de saúde”, esclarece.
Além disso, Wafina pontua que diversos fatores sociais estão envolvidos na promoção de saúde mental, como direito à renda, à alimentação, condições dignas de trabalho e dignidade. “Cabe considerar as condições sócio-econômicas a que essa população negra vem sendo relegada por centenas de anos nesse país. A saúde não é algo estático, que surge magicamente, mas advém de construções que vão privilegiar uma categoria social, na medida em que promovem o adoecimento de outra”, defende.
Nesse contexto, a exposição a tantas notícias sobre racismo e violência podem ser um fator de agravamento do sofrimento psíquico de toda uma parcela da população, como explica Wafina Kuti. “Assassinatos brutais, como o de Moïse e Durval, incluindo crianças e adolescentes, como João Pedro e Ágata, tendem a agravar sofrimentos de um grupo que é alvo de um genocídio. Então, riscos pessoais e sociais obviamente não tendem a colaborar com a saúde mental da população. Racismo adoece e mata”.
Edição: Elen Carvalho