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Escassez de recursos financeiros é barreira para retorno às aulas presenciais das universidades

Entrevistamos Ronalda Barreto Silva, coordenadora geral da ADUNEB, para falar sobre o cenário e os desafios da UNEB

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
"O número de alunos que não tem condições financeiras para adquirir conectividade é alto", aponta Ronalda sobre a dificuldade do ensino remoto atual. - ADUNEB

As aulas presenciais estão suspensas nas universidades públicas estaduais e federais na Bahia desde março de 2020, início da pandemia de Covid-19. Atualmente funcionando com aulas remotas, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) não tem previsão de retorno das aulas presenciais. Para entender qual o cenário, dificuldades, desafios do ensino remoto e retomada das aulas presenciais conversamos com Ronalda Barreto Silva, professora da UNEB e coordenadora geral da Associação dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (ADUNEB). "Não atingimos a faixa verde de risco de contaminação da Covid-19,  precisamos avançar na vacinação, realizar ampla testagem, estabelecer as condições ambientais para tal, a logística de deslocamento dos/as estudantes e vigilância epidemiológica", diz Ronalda. Além de apontar uma preocupação com a escassez de recursos financeiros para a retomada das aulas presenciais. Confira:

Brasil de Fato Bahia: Há alguma previsão para retorno das aulas presenciais e fase híbrida nas universidades estaduais?
Ronalda Barreto Silva: A grande maioria das universidades públicas tem a decisão de manter o ensino por mediação tecnológica durante todo esse ano de 2021. Não temos previsão de retomada do ensino presencial ou mesmo híbrido. A situação da pandemia parecia melhorar, entretanto, temos a presença de duas variantes extremamente transmissíveis: a delta (indiana) e a beta (africana). Em vários países houve flexibilização das medidas de combate à pandemia em função do avanço da vacinação e estão, agora, retrocedendo em razão do avanço dessas variantes. No Brasil a situação ainda é inicial em relação a essas variantes, entretanto, já se verifica transmissão comunitária e caminhando para o pico. Ou seja, a situação é de muita insegurança para afirmamos a possibilidade de retomada das aulas presenciais.

O corpo docente da UNEB avalia que é possível retornar com segurança às aulas presenciais ainda que seja na fase híbrida (aulas remotas e presenciais divididas na semana)?
A nossa avaliação é que não há segurança para retomada das aulas presenciais por várias razões: não atingimos a faixa verde de risco de contaminação da Covid-19,  precisamos avançar na vacinação, realizar ampla testagem, estabelecer as condições ambientais para tal, a logística de deslocamento dos/as estudantes e vigilância epidemiológica. Necessitamos de salas ventiladas, amplas, condições de higiene, distribuição de máscaras de qualidade e processos educativos para mudança de hábitos da comunidade.
As universidades não estão sendo preparadas para o retorno presencial com segurança. Um problema enfrentado é escassez de recursos financeiros. Não houve investimento para o modelo remoto e nem há para a retomada do modelo presencial. São aspectos que nos preocupam.

Quais têm sido as dificuldades observadas no ensino remoto?
A maior dificuldade é a inclusão de todos/as alunos/as, sobretudo aqueles que estão na zona rural, onde não tem internet. O número de alunos que não tem condições financeiras para adquirir conectividade é alto. Sobretudo nossos alunos quilombolas e indígenas têm dificuldade de acompanhar essa modalidade de ensino.

Quais dificuldades vêm sendo enfrentadas desde antes da pandemia e que se mantém?
Escassez de recursos financeiros, vacâncias não preenchidas com concursos, ou seja, falta pessoal para trabalhar e violação dos direitos dos/as docentes e dos servidores técnico-administrativos.

Na sua avaliação, quais serão os desafios para o funcionamento das universidades no pós pandemia?
Estabelecer condições sanitárias que, imaginamos, serão permanentes e repensar métodos e técnicas de ensino, combinando modelo presencial com utilização das tecnologias da informação e comunicação de maneira mais ampla. São desafios postos, inclusive para a organização dos/as trabalhadores/as e que podem, inclusive, contribuir para uma melhor atuação da universidade e dos sindicatos.
 

Edição: Elen Carvalho