Dados do IBGE da Bahia, no ano de 2019, apontavam 40,4% da população abaixo da linha da pobreza
Estamos vivendo tempos absolutamente sombrios no Brasil, com o retorno de um dos maiores problemas que combatemos ao longo dos anos e dos governos de esquerda: a fome. Desde que o país saiu do Mapa da Fome da ONU, em 2014, graças às amplas construções de políticas públicas junto aos movimentos sociais, assistimos, agora, angustiados o retorno do país a este mapa mundial de maneira ainda mais cruel, em meio a morte de mais de 380 mil pessoas por Covid-19 até o dia 21 de abril. As palavras entre nós, mais do que nunca, vão ter que ser luta e solidariedade.
A política de privatização das estatais brasileiras, que começou a ser implantada no governo de FHC, foi brecada durante os governos petistas, e retomada após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma, explica muita parte do que estamos vivendo hoje e desse enorme retrocesso na segurança alimentar da população brasileira. Atrelado a isso, tem todos os desmontes que o país sofre nas políticas públicas e sociais voltadas para a maior parte da população, que é de baixa renda, nesse país de extensão continental.
Estudos da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB), mostrou que 15% da população já sofria de grave insegurança alimentar até o final de 2020 dentro de casa: sem comida para alimentar suas famílias. A pesquisa se aproxima de outra, Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), apontando cerca de 19 milhões de pessoas passaram fome durante a pandemia. E a tendência é piorar: ainda conferem a pesquisa das instituições federais, 59,4% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar.
Dentre tantos campos de luta que precisamos estar engajados, defender nossas estatais é uma delas. Pois os dados da fome estão também relacionados diretamente a tentativa de privatização da Petrobras, por exemplo, que causa propositadamente a alta dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Com isso, o aumento do preço dos alimentos, o encarecimento de produtos, o retorno do uso de fogão a lenha, a insegurança alimentar.
Além de termos que dar as mãos em atos solidários para combater este problema tão desumano, que é ver as pessoas sentindo fome, temos frentes de luta permanentes. Em Salvador, no dia 15 de abril, realizamos uma audiência pública com entidades, sindicatos e movimentos sociais, ao lado do Movimento Bahia Contra as Privatizações. Os participantes, entre especialistas e movimentos sociais, foram categóricos em afirmar que a tentativa de privatização das estatais brasileiras, entre elas a Petrobras, tem desestabilizado a política de preços e a economia brasileira, aumentando a pobreza no país.
As consequências são graves para todos, mas sobretudo para a população de menor baixa renda, e devem crescer com mais de um ano de pandemia e desestabilidade social. Dados mais recentes do IBGE da Bahia, no ano de 2019, apontavam 40,4% da população abaixo da linha da pobreza e 12,3% da população abaixo da linha da extrema pobreza.
O aumento do botijão, só este ano, por exemplo, foi de 11,75%, e já são grandes os casos pelo Brasil de pessoas cozinhando a base de lenha e de fogão, inclusive nas periferias de grandes capitais.
Temos muitos desafios pela frente, mas combater a fome é urgente e fazer a população entender como ela está voltando é fundamental para o processo de formação política de nossa sociedade. Muito embora quem esteja na ponta da pobreza, queira se alimentar e ter uma vida mais digna, é necessário que fortaleçamos este debate que, até então, fica mais restrito ao campo político.
A maioria da população que viveu condições melhores com as políticas implementadas pelos governos Dilma e Lula precisa recordar que isso só foi possível graças ao fortalecimento do Estado e da democracia, em todas as suas perspectivas, entre elas da soberania nacional e valorização das estatais. A interrupção do processo de privatização no início do governo do PT foi o que fez o país dar um salto de desenvolvimento social considerável na cena geopolítica mundial.
Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, lembrou nesta significativa audiência pública o quanto este salto no desenvolvimento social incomodou o grande poder, que, ressalta ele, está também no exterior, onde o processo de golpe também foi articulado para implantar a política de desnacionalização absoluta da economia.
Solidariedade – Em meio a este cenário de caos no país, quem sempre esteve nos movimentos sociais e de base, no dia a dia com a população, sabe o quão importante são arrecadações de cestas básicas para combater a fome de diversas famílias. A campanha do PT Nacional – o PT Solidário – tem arrecadado toneladas de alimentos em todo o Brasil e continuará até o fim da pandemia. Seja coletiva ou individualmente, combater a fome é compromisso de quem lutou e luta pela democracia. Mas, dada a toda experiência que temos, acúmulos de muita luta contra a repressão, a pobreza e a miséria, sabemos que juntos somos bem mais fortes. Como disse Lula, em 2003, “A fome, em lugar nenhum, levou a ser humano à revolução. A fome leva à submissão”. Por isso queremos um país livre da fome.
Edição: Elen Carvalho