O baiano Itamar Vieira Junior arrebatou este ano o prêmio Jabuti de melhor romance literário com o livro Torto Arado (Editora Todavia). O Jabuti, em sua 62ª edição, é o prêmio mais importante da literatura no Brasil e teve seus vencedores anunciados no último dia 26. Torto Arado já havia levado o prestigiado Prêmio Leya, de Portugal, em 2018, e é finalista do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa, do Itaú Cultural, que terá resultados divulgados no próximo dia 18. No livro, Itamar traz narrativas de conflitos e resistências pela terra em uma comunidade de trabalhadores rurais na Chapada Diamantina, através da jornada de duas irmãs.
Nascido em Salvador, em 1979, hoje morador de Itapuã, Itamar é geógrafo e funcionário do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), trabalho que lhe rendeu a proximidade com realidades de populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de assentados, pelos sertões baiano e maranhense. Ele mesmo descendente de negros e indígenas Tupinambás, herdou dos avós paternos, que viveram na zona rural no Recôncavo Baiano, histórias que o ajudam a construir suas narrativas.
Depois de formar-se Mestre em Geografia, o autor completou o doutorado em Estudos Étnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Sua tese, tecida sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do nordeste, e seu trabalho como funcionário público na área do desenvolvimento agrário revelou a Itamar realidades de um país com uma grave questão fundiária, em que a escravidão ainda existe, ainda que com outros nomes, e que carrega um dos maiores índices de conflitos pela terra.
Experiências que atravessam a escrita do brilhante autor que leva a Bahia para todos os lugares. No enredo de Torto Arado, ambientado num sertão menos conhecido, a região úmida da Chapada, desvela-se o universo rural brasileiro, com o protagonismo de figuras femininas, nos enfrentamentos com uma sociedade que nunca deixou de ser escravocrata e patriarcal.
No sábado (5), Itamar participa da 18ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que este ano está sendo em formato virtual em virtude da pandemia de Covid-19. O autor compartilhará a Mesa 7 - Ancestralidades com o escritor nigeriano Chigozie Obioma. Além do espaço rural, os autores compartilham em seus temas a resistência das religiões de matrizes africanas e indígenas e de culturas ancestrais. O evento é gratuito e será transmitido até o domingo, dia 6, pelo canal do festival.
Edição: Elen Carvalho