Na semana que sucede o primeiro turno das eleições municipais, o Brasil de Fato Bahia conversou com o cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e da pós-graduação em Políticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador (UCSal), Claudio André de Souza. Algumas das maiores cidades – Feira de Santana e Vitória da Conquista – ainda enfrentarão o segundo turno, mas o pesquisador aponta para a construção de um cenário de equilíbrio.
O especialista destaca a manutenção do PT como partido de relevância para a esquerda baiana e chama a atenção para o crescimento do PP (Progressistas), partido do vice-governador João Leão, e do PSD (Partido Social Democrático), hoje também da base de apoio a Rui Costa.
Ascensão do centro e terceiro bloco
Acompanhando o cenário nacional, Claudio analisa que na Bahia também se verificou a ascensão de partidos ligados ao centro. Em duas das maiores cidades – Salvador e Camaçari – candidatos do DEM (Democratas) venceram o primeiro turno e em outras, candidatos da direita tradicional estão no páreo para o segundo turno, no próximo dia 29. É o caso da dobradinha MDB (Movimento Democrático Brasileiro) x PT (Partido dos Trabalhadores) em Feira de Santana e Vitória da Conquista.
“O desempenho nacional da centro-direita foi expressivo, ocupando espaços de partidos de esquerda, e também ampliando a base de prefeitos e de população governada”, aponta o pesquisador. E explica: “Isso se refletiu na Bahia porque também, há algumas eleições, desde 2012, e se intensificou em 2016, nós temos a força do PP e do PSD, que são aliados do governador Rui Costa”.
Ao analisar as 20 maiores cidades da Bahia, Claudio destaca um desempenho expressivo do DEM, partido de oposição, que obteve vitória em seis delas, enquanto PP e PSD juntos tiveram sete do total. “O que eu percebo é que há a construção de um cenário de multipolarização na Bahia. De um lado o bloco do PT, do outro lado o DEM, o PP e PSD se constituindo como um terceiro bloco.”
Quanto à ultradireita, afirma: “Ela não obteve vitórias expressivas nas capitais e grandes cidades”. Segundo ele, isso decorre do fato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não ter uma base governista estável na Câmara e no Senado. Na capital Salvador, o candidato Cezar Leite, do PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro) ficou em 4º lugar, com 5,3% dos votos. “Ele não teve volume de campanha, tempo de propaganda”, explica o professor. “Vejo que esse resultado pífio também decorre dessa estratégia de somente polarizar como candidato de Bolsonaro sem apresentar propostas condizentes com a complexidade que é gerir uma capital como Salvador”, afirma.
Equilíbrio político
No espectro da esquerda, o cientista explica: “Quando a gente analisa os prefeitos eleitos por partido nós temos se destacando o PT com 32 prefeituras, o PSB (Partido Socialista Brasileiro) com 30 e o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) com 16”. Por outro lado, acrescenta: “Quando a gente vai olhar a quantidade de população a ser governada pelos partidos, o PT vai governar 5,41%, um dado mostrando que o partido ficou muito restrito a pequenos municípios”, pontua. E acrescenta: “Tanto que nos 20 maiores municípios o PT ganhou somente em Lauro de Freitas”.
No entanto, o partido de Rui Costa está no 2º turno e por isso os números ainda podem mudar: “Se o PT ganha Feira ou Vitória, ele consegue aumentar esse percentual. Como eu entendo que há uma maior propensão ao PT ganhar Vitória da Conquista, e não Feira de Santana, o partido pode alcançar esse patamar dos demais”, avalia.
O pesquisador aponta também a quantidade de votos de maneira absoluta: “O DEM lidera, com 1.581.991 votos, o PSD teve 1.491.449 votos, o PT em terceiro com 1.119.698 e o PP com 1.027.010”. E analisa: “O que eu vejo é um equilíbrio político, e o PT continua sendo uma referência importante para a esquerda baiana”.
O segundo melhor desempenho nas urnas entre os partidos de esquerda foi do PSB: “De fato se constituiu hoje como um partido que é importante”, comenta Claudio. Segundo ele, em uma boa posição em comparação com o DEM, que levou 37 prefeituras, o PSB se torna a segunda força da esquerda na Bahia.
De olho em 2022
Neste cenário, avalia Claudio: “A base de apoio ao governador sai muito fortalecida – PT, PSD e PP juntos representam um tripé de sustentação e de estabilização política dessa coalizão do governo Rui Costa”. Ele destaca: “O tamanho político partidário do PP e do PSD mostra que eles se constituem como uma terceira força, na verdade como a primeira força da política baiana”. Para ele, o jogo está em aberto: “Nada garante que eles não apresentem uma estratégia, por exemplo, de se unirem para fazer o próximo governador, até mesmo rachando com o PT ou colocando o PT como partido coadjuvante nesse processo de montagem das estratégias para 2022”, afirma o especialista.
Edição: Jamile Araújo