Nesta quinta-feira (29), é comemorado o Dia Nacional do Livro, data da fundação da Biblioteca Nacional (BN) em 1810. Embora date do início do século 19 a criação da BN, o acesso aos livros físicos ainda não é democratizado em nosso país, seja pelo custo ou pela dificuldade de se construir uma cultura de leitura. Por outro lado, são inúmeras as maneiras de escrever, ler e contar a história pela população brasileira. Seja a partir da oralidade, das chamadas 'escrevivências’, da poesia, da música, do rap, entre outras. O que não dá para negar é a importância do livro e da leitura em nossas vidas, e, sobretudo, seu potencial de transformação.
A professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e pesquisadora em Literatura e Cultura, Lise Arruda Dourado, diz que o livro é importante porque é um passaporte para a libertação. “Na medida em que o ser humano traça sua trajetória de leituras, ele risca o seu caminho de libertação, faz o rascunho, e vai se libertando na medida em que vai lendo. Se libertando de preconceitos e da ignorância. Então é muito mais difícil dominar uma pessoa esclarecida, no sentido de a pessoa está aberta para novos conhecimentos, novas culturas e informações. Ela vai se tornando um sujeito mais livre, ela é dificilmente dominada, essa pessoa vai ficar lutando sempre para ser uma pessoa mais livre, mais independente”, pontua.
Pessoas são livros e leitura é alimento para alma
Lise conta que a trajetória de leitura em sua vida foi fundamental e que começou ainda criança. “Eu acho que começa quando nossa mãe, nossa avó, quando as pessoas que estão nosso redor, tias e tios, começam a contar histórias, começam a nos apresentar uma leitura como ouvintes ainda quando éramos crianças, de ouvir as historinhas, que provavelmente estão em um livro, ou estão em um grande livro da oralidade, porque pessoas também são livros. A gente tem uma grande biblioteca que é um ancião. Cada ancião é considerado uma biblioteca inteira. O livro da vida é enorme para essas pessoas, os ensinamentos são vivos”, afirma.
“Eu não vivo sem consultar livros. Para mim, os dois lugares mais importantes da minha casa são a cozinha e a biblioteca. Porque são lugares onde a gente se alimenta”, argumenta Lise.
Descobrindo-se a partir da leitura
“O prazer pela leitura foi uma das maiores descobertas que tive. De fato um bom livro nos dá asas para a imaginação. Apesar de ter demorado em ‘tomar gosto’ pela leitura, hoje um dos meus passatempos preferidos é ler”, ressalta Felipe Sena, biólogo e morador da cidade de Juazeiro, no norte do estado.
O biólogo acredita que o hábito da leitura é algo que precisa ser construído diariamente. “O livro é nossa chave para outros universos, a depender do que esteja lendo. A leitura nos ajuda de fato a compreender tudo que passa mundo afora. O que passa na economia, na política, no meio ambiente, e por aí vai. Os livros podem nos dar acesso a informações fundamentais para não passarmos despercebidos pelo mundo”, conclui Felipe.
Em tempos onde as versões virtuais de livros se difundem, Lise diz que não consegue se acostumar muito com o livro virtual, pois acha muito cansativo. “Essa vida nossa de distanciamento social fez com que isso se potencializasse ainda mais. Acho muito cansativo ficar com as vistas em um e-book. Então eu prefiro ainda os livros físicos, livros palpáveis”, destaca a professora.
O que tu indica: livros sugeridos pelas pessoas entrevistadas
Lise Arruda Dourado indica "Ensaio sobre a Lucidez" - José Saramago:
“Eu teria muitos livros para indicar. Mas acredito que ultimamente, o que mostra tudo isso que aconteceu aqui no Brasil, ajudaria muito a leitura de ‘Ensaio sobre a lucidez’, de José Saramago. Primeiro ‘Ensaio sobre a cegueira’, depois ‘Ensaio sobre a lucidez’, que mostra como a cegueira geral e a ignorância, o que a falta de empatia, de compreender o outro, o que essa cegueira em relação a coletividade pode fazer na vida das pessoas”.
Felipe Sena indica "Aos pés do mestre" - Jiddu Krishnamurti:
“É difícil indicar apenas um, gostaria de sugerir vários, mas, neste momento de isolamento social, de pandemia e de incertezas, sugiro a leitura do livro ‘Aos pés do mestre’, do espiritualista Krishnamurti. Os séculos de sabedoria acumulados pelas doutrinas filosóficas orientais podem e terão papel importante no encontro do ser humano com o seu EU, por isso recomendo Jiddu Krishnamurti”.
Edição: Elen Carvalho