Os movimentos populares do campo, da cidade, das águas e das florestas estão construindo, durante toda a semana, a “Jornada Nacional da Alimentação”, com eventos relacionados à saúde, alimentação e autonomia popular. Nesta sexta-feira (16), Dia Mundial da Alimentação, aconteceu um ‘Ato Nacional Contra a Fome: por mais comida saudável e renda para o povo se alimentar’, onde foi lançado o ‘Manifesto Popular contra a fome e pelo direito de se alimentar bem’.
O objetivo das ações é denunciar o cenário de fome e insegurança alimentar, bem como as posturas do governo Bolsonaro que não enfrentam a situação, além de apontar as saídas para garantir a soberania alimentar, combater a fome e a miséria que voltaram a atingir a população brasileira, com retorno do país ao mapa da fome em 2018, e foram agravadas com a pandemia da COVID-19 e suas consequências.
Leomárcio Araújo, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), explica que a jornada foi articulada pela Via Campesina, e que, para o MPA, o dia 16 de outubro tem sido tomado como uma data de luta pela soberania alimentar desde 2013, mas nos últimos anos a insegurança alimentar crescendo e se agrava com a pandemia. “Nos coloca em uma situação de muita preocupação pelo fato de a gente já ter voltado para o mapa da fome desde 2018. Hoje mais de 10 milhões de famílias já estão em situação de extrema pobreza, e a gente não vê por parte do governo nenhum comprometimento com essa pauta. Pelo contrário, a gente vê o governo vetar, o presidente Bolsonaro fez isso, todo e qualquer apoio que pudesse contribuir com a produção de alimentos por parte da agricultura familiar, que aliás é quem tem produzido mais de 70% do alimento que chega nas mesas do povo brasileiro”, afirma Araújo.
Segundo o IBGE, a insegurança alimentar atinge 84,9 milhões de brasileiros, somados entre graus grave (10,3 milhões) , moderado (18,6 milhões) e leve (56 milhões), a partir de estudos realizados na ‘Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil’, divulgada em setembro deste ano . O cenário de crises econômica, política, social, ambiental e sanitária deixa a população ainda mais fragilizada e com o risco de passar fome.
“Se nós já estamos numa situação de fragilidade econômica, onde as pessoas estão desempregadas, onde as pessoas já não têm a capacidade de compra, quando o Presidente da república comete um ato violento de não permitir que a produção do alimento aconteça, com essa assinatura de veto, ele está legitimando, com a caneta do presidente da república, a fome em nosso país. Ele está afirmando que defende que o povo passe fome, porque não há condição de consumo, não há condição de comprar sua comida, numa dimensão de elevação de preço, como a gente tem visto no último período”, ressalta Leomárcio.
Ações de solidariedade e cobrança de uma ação do governo federal
Leomárcio diz que nesta data alguns compromissos estão sendo firmados, dentre eles, a permanência e intensificação das ações de solidariedade. “Aquilo que tiver ao alcance do povo, o povo fará. Aliás, sempre fez isso ao longo da história. Então são várias campanhas de solidariedade que tem acontecido nesse momento de pandemia, e seguirão com certeza. Porque o que tiver ao alcance do povo, o povo fará para que seu vizinho, seu amigo, seu conhecido, para que pessoas da sua classe possam garantir o alimento. Mas isso não é suficiente, a gente precisa que o governo federal assuma a sua responsabilidade. Deixamos o convite a todos e todas a entrarem nas redes sociais da Via Campesina, do MPA e de outras organizações, para compreender um pouco mais desse quadro e dessa ameaça crescente de fome em nosso país”, conclui.
Manifesto
Em "Manifesto Popular contra a fome e pelo direito de se alimentar bem", organizações se comprometem com a manutenção das ações de solidariedade; luta pela derrubada dos Vetos de Bolsonaro à Lei de Assis de Carvalho - PL 735/2020 que possibilita ampliar a produção da agricultura familiar e camponesa; luta pela retomada da construção dos estoques públicos de alimento; Enfrentamento às medidas do governo Bolsonaro, garantia da renda digna e pleno emprego; com a luta por um Programa de Renda Básica Permanente; Programa de produção de alimentos saudáveis; Programa de compra de alimentos com doação a quem precisa; Programa de geração de empregos; Abastecimento de água e valorização do salário mínimo, entre outros pontos.
Edição: Elen Carvalho