A pesquisa “Impactos da Covid-19 na Economia Criativa”, divulgada no último mês pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC-BA), busca dimensionar os efeitos da pandemia para profissionais da economia criativa no Brasil e gerar subsídios para políticas públicas de enfrentamento da crise no setor. O estudo contou com a participação de 2,6 mil respondentes de diversos estados do país.
A economia criativa abrange criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual como insumos primários, de acordo com o Sebrae. O setor se divide nos eixos consumo (design, arquitetura, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual), cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões culturais) e tecnologia, incluindo a produção de games.
Segundo os pesquisadores, o setor criativo foi duramente afetado em sua forma de subsistência e existência, já que grande parte dele, como os segmentos artístico e cultural, depende do encontro entre pessoas e da presença em espaços fechados ou de aglomerações em toda sua cadeia produtiva, da criação ao consumo.
A coleta dos dados foi feita entre março e julho, obtendo 1.910 respostas validadas, sendo 1.293 de indivíduos e 617 de organizações. A equipe de pesquisa é composta por alunos e professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outras universidades públicas do país.
Vulnerabilidade e estratégias
A pesquisa constatou que, até o mês de março, a maioria (80,7% dos respondentes) não possuía vínculo empregatício formal, recebia até 3 salários mínimos (71,3%) e possuía alta carga horária de trabalho (31,5% trabalham mais de 45h semanais). 79,3% cancelaram entre 50% e 100% de suas atividades em abril. Já 65,8% das organizações tiveram que fazer algum tipo de redução de contratos e pouco mais da metade (50,2%) teve que demitir colaboradores.
Apesar destes efeitos, muitos profissionais (45,1% dos indivíduos e 42% de organizações) afirmaram vir buscando alternativas e desenvolvendo novos projetos e produtos durante o período de distanciamento social. Parte destes investiram na criação de fontes de receita até então nunca adotadas por eles, como antecipação de venda de ingressos e campanhas de doação e/ou financiamento coletivo.
Recuperação
A medida de apoio mais citada pelos participantes individuais foi o auxílio emergencial. As organizações mencionaram desoneração tributária, perdão de dívidas e apoio na manutenção, incluindo suspensão de contas de custeio e apoio para pagamento de funcionários. A aprovação da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei 14.017), em junho, foi uma conquista fruto da mobilização do setor.
As respostas indicam não só a necessidade de recursos financeiros, mas a expectativa de que os órgãos públicos atuem como consultores na reorganização do setor. Há grande demanda por capacitação (mencionada por cerca de ¼ dos participantes), e de serviços e infraestrutura que possibilitem a adaptação das atividades ao ambiente digital.
Quanto a linhas de crédito, a pesquisa detectou que grande parte dos agentes culturais não acessa instrumentos de fomento público e indica a necessidade de simplificação de procedimentos e formação continuada para que se amplie essa utilização, inclusive para aqueles que têm função mais técnica e de suporte, através de instrumentos mais adequados ao setor. A pesquisa traz a importância de que políticas públicas de apoio sejam construídas ouvindo o setor cultural.
Edição: Elen Carvalho