Desde seu início no Brasil, em março, a pandemia de covid-19 tem tornado mais visíveis estruturas de racismo e desigualdades, como as que se vê na falta de acesso a saneamento básico, moradia precária, direito a saúde e desemprego, que atingem fortemente a população negra e pobre das periferias. Apesar de o contágio acontecer em todos os grupos sociais, as mortes são registradas também em maior parte na população negra e sem escolaridade.
É nesse contexto que surgiu a campanha Periferia Viva, uma articulação de movimentos populares do campo e da cidade, professores e estudantes universitários, igrejas e organizações sociais, profissionais da saúde e sindicatos, para atuar de forma coletiva desenvolvendo ações de solidariedade junto às comunidades mais vulneráveis. A iniciativa acontece em vários lugares do país.
Na Bahia, o projeto já realizou ações em nove municípios - Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Jequié, Cachoeira, Guanambi, Caetité, São Francisco do Conde e Malhadas - mais a Ilha de Maré. Cerca de 30 toneladas de alimentos foram distribuídas até o momento, em sua maioria produtos da agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária no estado. A campanha distribui ainda itens de higiene e máscaras, e viabiliza a venda de gás de cozinha a preço subsidiado, possibilitada graças à articulação com o Sindicato dos Petroleiros da Bahia - Sindipetro BA.
O povo cuidando do povo
Outra atuação da campanha está nos agentes populares de saúde. Os agentes são moradores dos próprios bairros, que atuam na formação sobre medidas preventivas da Covid-19 e na coordenação das ações de solidariedade. Os agentes têm se organizado principalmente nos municípios de Salvador, nos bairros de Plataforma e Cajazeiras, e em Feira de Santana, no bairro George Américo.
Juan Gonçalves da Silva coordena o Periferia Viva no bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador e afirma: “A campanha está sendo um importante fortalecimento de comunidade, de organização popular, de solidariedade nesse momento”. Ele explica: “Estas pessoas se colocaram nesse processo de ajudar a comunidade a se precaver desse vírus, porque a gente sabe que só vai sair dessa situação com menor intensidade de infecções, de morte se a comunidade se somar. Porque o Estado brasileiro, o poder público abandonou a gente e só a gente se irmanando, estando juntos que a gente pode se fortalecer e construir outro processo de solidariedade, outro projeto de país”.
Caroline Lopes, moradora do bairro, foi beneficiada pela campanha e agora atua como agente. Ela conta: “Foi uma experiência incrível, pois a campanha deu autonomia para que os jovens fossem protagonistas da sua própria história”. Caroline adiciona que “a campanha fez com que os participantes olhassem para os lados e pudessem enxergar algumas situações bastante complicadas que já existiam, mas com a pandemia veio a piorar”.
Carla Rosario, assistente social também em Plataforma, juntou-se à campanha como voluntária: “O meu papel é levar informações e conscientização social e levando a comunidade a conhecer os seus direitos garantidos”. E conclui: “Para mim está sendo uma experiência riquíssima porque estou tendo a oportunidade de estar mais presente com a comunidade, podendo ouvir e acompanhar de perto as necessidades vividas”.
Como contribuir
Caixas solidárias: você pode organizar uma caixa no seu prédio, casa, condomínio ou bairro, para arrecadar alimentos não perecíveis e materiais de higiene, e fazer um cadastro entrando em contato com o número (71) 99154-2437 (telefone e WhatsApp). O Periferia Viva busca as doações observando os cuidados com o isolamento e leva para os pontos de higienização e processamento, localizados nos próprios bairros.
Contribuição financeira: Transferência de qualquer valor para a conta no Banco do Brasil: Ag 1803-1 / Cc 54236-9 / Valeria Nogueira.
Voluntariado: voluntárias/os podem ajudar nas demandas de saúde, comunicação, questões jurídicas e direitos humanos. É bem-vinda a contribuição na confecção de máscaras de tecido, no deslocamento dos materiais e muitas outras possibilidades.
Edição: Elen Carvalho