Bahia

RELIGIOSIDADE

Festa da Boa Morte é celebrada este ano em formato virtual

Respeitando as medidas de isolamento, Irmandade se adapta ao completar 200 anos

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
A devoção a Nossa Senhora da Boa Morte é registrada desde o século XIX, sendo exclusivamente feminina negra. - Manu Dias/GOVBA

Manifestação reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), a Festa da Boa Morte terá programação virtual este ano. A festa que tradicionalmente enche as ruas da cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, atraindo visitantes e pesquisadores de todo o país e do exterior, se adequa às medidas de prevenção contra o avanço do coronavírus.
 
As mulheres que compõem a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, todas idosas, por isso pertencentes ao grupo de risco para a covid-19, decidiram reinventar a celebração da maneira possível. A programação, que conta com missa, orações e apresentações culturais, está sendo transmitida desde o dia 14 e vai até este domingo (16), pela UFRB TV e no facebook da Irmandade da Boa Morte.
 
O fato acontece justo quando a Irmandade completa 200 anos de existência em Cachoeira, como afirmam relatos orais. O culto a Nossa Senhora, segundo informações do IPAC, difundiu-se em todo o mundo ocidental através da expansão católica, desde o século IX. No Brasil, esta devoção sofreu influência das religiões afro-brasileiras. Em Salvador, a devoção a Nossa Senhora da Boa Morte é registrada desde o século XIX, sendo exclusivamente feminina negra.

Em Cachoeira, as irmãs explicam que a devoção surgiu por um pedido pelo fim da escravidão, feito pelas devotas. A Irmandade exerceu, desde o início, em uma sociedade ainda escravocrata, papel importante como núcleo de resistência e solidariedade do povo negro, e em especial na ascensão da mulher negra. Ainda hoje a Festa da Boa Morte representa a resistência e luta destas mulheres.

A Nossa Senhora da Boa Morte, para os católicos, representa a “dormição” (morte) de Maria. As celebrações também homenageiam Nossa Senhora da Glória, que representa sua passagem para a vida celestial. A festa dura de 13 a 17 de agosto, com procissões, cânticos e missa, em que as irmãs levam as imagens santas de Nossa Senhora da Boa Morte e da Glória. Ao fim das celebrações religiosas, do dia 16 ao dia 17, acontecem rodas de samba e ceias de caruru e cozido, encerrando-se com festa no Largo D’Ajuda.

Este ano, as orações e missa serão transmitidas on-line. A programação conta também com simpósio sobre identidades culturais e religiosidades, além da apresentação on-line do grupo afro Gêge Nagô. Confira:


Festa da Boa Morte/IX Simpósio: identidades culturais e religiosidades
 
15.08 (sábado):
16h – Religiosidade negra no Brasil – Resistência e Fé
18h30 – Live de Orações com as irmãs da Boa Morte
20h – WebConferência – O Terreiro Ijexá da Língua de Vaca

16.08 (domingo):
09h – Missa Gratulatória
15h – Live de Orações com as irmãs da Boa Morte
16h – Grupo Áfro Barroco Gêge Nagô
 
Dia 17.08 (segunda-feira):
19h – Lançamento da Revista Mulheres de Axé em homenagem à Irmandade da Boa Morte.

Edição: Elen Carvalho