Bahia

LITERATURA

Mulheres negras leem e indicam escritoras negras

Confira a terceira indicação de leitura da semana

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
 “Insubmissas Lágrimas de Mulheres”, de Conceição Evaristo, é a indicação da comunicadora popular Jamile Araújo. - Reprodução

O projeto “Lendo mulheres negras” criado em 2016, em Salvador, se dedica a apreciar e divulgar o trabalho de autoras negras, do Brasil e do mundo. A iniciativa, que promove encontros para ler e falar sobre as escritoras, suas vidas e sua produção, foi movida por um questionamento: “Quantas autoras negras você já leu?”. A indagação provoca refletir sobre o quanto mulheres negras ainda são invisibilizadas na literatura, ao mesmo tempo em que reforça a importância da leitura de seus livros. Ao longo desta semana, o BdF traz indicações de leitura feitas por mulheres, que contam de que modo foram marcadas por estas obras em suas trajetórias. Confira a terceira sugestão da semana.

Jamile Araújo, comunicadora popular, indica “Insubmissas Lágrimas de Mulheres”, de Conceição Evaristo.
Insubmissas lágrimas, olhos úmidos, que por vezes são rios caudalosos. Essa é a sensação que tenho ao ler os contos de Conceição Evaristo:  encontros com vozes-mulheres ecoando experiências de vidas forjadas a lágrimas, sangue, suores, dores, prazeres, sorrisos. Sinto a parecença com as histórias de minhas avós, mães, tias, primas, irmãs, sobrinhas, amigas, vizinhas, e até com a minha própria história refletindo no espelho. Escrevivências de uma sociedade muito dura com as mulheres negras desde sempre. Entretanto, desenha, a partir de acontecimentos conhecidos por muitas de nós, como somos fortes, como somos capazes de nos reinventar, de ser poesia, ser dança, ser canto, riso e afeto.

Nos 13 contos, que resolvi ler um por dia, conheci a história de 13 mulheres, mas que ao mesmo tempo se multiplicavam em tantas outras, e eram capazes de se somarem e se materializar em alguma mulher muito próxima a mim. Acredito que ao ler os tão bem escritos contos de Evaristo, pude entender que as nossas dores não nos definem, embora elas façam parte de nossa trajetória. Insubmissas são nossas lágrimas, mas também a nossa resistência e luta por liberdade. Pois, mesmo em uma sociedade com tantas desigualdades, somos potentes e vencemos batalhas todos os dias para viver.
 

Edição: Elen Carvalho