O projeto “Lendo mulheres negras” criado em 2016, em Salvador, se dedica a apreciar e divulgar o trabalho de autoras negras, do Brasil e do mundo. A iniciativa, que promove encontros para ler e falar sobre as escritoras, suas vidas e sua produção, foi movida por um questionamento: “Quantas autoras negras você já leu?”. A indagação provoca refletir sobre o quanto mulheres negras ainda são invisibilizadas na literatura, ao mesmo tempo em que reforça a importância da leitura de seus livros. Ao longo desta semana, o BdF traz indicações de leitura feitas por mulheres, que contam de que modo foram marcadas por estas obras em suas trajetórias. Confira a segunda indicação:
Anaíra Lôbo, jornalista/comunicadora
Comecei a ler o livro “Primavera para as rosas negras” de Lélia Gonzalez recentemente. E a pergunta que ficou pulsando foi: como pode Lélia ser relegada ao esquecimento, ou melhor, como podem apagar essa referência (Lélia) nos estudos e análises sobre a formação social do Brasil? Sobre o racismo no Brasil?
Isso é o que o racismo faz, nos apaga. Posso dizer que me sinto lesada, expropriada mais uma vez, pelo racismo, por não ter tido oportunidade de estudar Lélia na escola, por exemplo, ou outras tantas autoras. Isso é indignante! Acho que a leitura de sua obra é fundamental como referência nos estudos sobre o racismo brasileiro, e mais ainda, nos impulsiona já que ela não é apenas referência intelectual, foi também militante na construção do Movimento Negro, na luta para destruir esse projeto de genocídio.
Edição: Elen Carvalho