Embora tenha suspendido suas atividades acadêmicas e administrativas não essenciais em 18 de março – um dos esforços para cumprir o afastamento social, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde em enfrentamento à pandemia de covid-19 – a Universidade Federal da Bahia mostrou, durante toda a semana, que se mantém ativa durante o período. Na segunda-feira, 18 de maio, aconteceu a abertura do “Congresso Virtual da UFBA 2020 – Universidade em Movimento”, um evento inteiramente on-line que oferece transmissões ao vivo e vídeos pré-gravados de mesas, palestras, exposições e intervenções artísticas. De acordo com o reitor da instituição, João Carlos Salles, serão mais de 700 atividades disponíveis gratuitamente para acesso no site do evento e nas redes sociais da universidade. O Congresso vai até o dia 29 de maio e tem mais de 35 mil inscritos.
Durante o ato de abertura – transmitido ao vivo do prédio da reitoria e, até o fechamento desta matéria, com mais de 46 mil visualizações no YouTube – o reitor ressaltou a importância de seguir as recomendações das autoridades sanitárias e criticou os esforços de governantes e grupos que tentam pôr em xeque as medidas de isolamento. “A Universidade Federal da Bahia não retornará a atividades presencias sem o devido amparo em orientações sanitárias razoáveis. Nossa decisão foi tomada por unanimidade pelo Conselho Universitário e dela não recuaremos, seja por premiações, seja por ameaças”, afirmou.
Tanto não abandonaremos ninguém, como cuidaremos para que nossas atividades, presenciais ou remotas, jamais sejam resultado de improviso
Ainda, o reitor apontou que o debate sobre a viabilidade das atividades à distância não deve perder de vista a preservação da qualidade, tanto do ensino, quanto da pesquisa e extensão, pilares fundamentais da Universidade Pública. “A garantia do acesso a tecnologias digitais é fundamental, entretanto, vale enfatizar, é apenas uma primeira condição. É também dever da Universidade Pública preservar sua qualidade. Não basta dispor de tecnologias se não tivermos uma didática adequada nem projetos pedagógicos bem definidos, coletiva e institucionalmente. (...) Tanto não abandonaremos ninguém, como cuidaremos para que nossas atividades, presenciais ou remotas, jamais sejam resultado de improviso”.
O ato de abertura contou também com apresentações do cantor Lazzo Matumbi, do professor da Escola de Música da UFBA Mário Ulloa e do maestro Iuri Passos, que fez a regência do toque de alabês. Houve ainda uma homenagem a Muniz Sodré, professor da UFRJ e membro da Academia de Letras da Bahia, que segue internado com covid-19; foi reexibida a conferência de abertura proferida por ele na abertura do Congresso da UFBA em 2018.
Palestras da semana
O grande número de atividades e a diversidade dos temas abordados pode tornar desafiador acompanhar a programação do Congresso. Mas, uma vantagem do método on-line é que todas as mesas ficam disponíveis para serem assistidas posteriormente. Destacamos aqui algumas delas.
Primeira noite - o início do evento foi movimentado com três palestras importantes:
“O Brasil no século XXI: conhecimento e políticas públicas no enfrentamento da Covid-19”, com Nísia Trindade (Fiocruz), e os epidemiologistas e professores do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA Maria da Glória Teixeira e Eduardo Mota; a questão de como as ideias fascistas se manifestam atualmente foi abordada pelo filósofo Newton Bignotto (UFMG) na mesa “Sobre o fascismo hoje”, com mediação do próprio reitor João Carlos Salles e do professor da Faculdade de Economia da UFBA Luís Filgueiras; e “Educação: desafios do nosso tempo” foi o tema tratado por Demerval Salviani (Unicamp), Daniel Cara (Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Roberto Leher (UFRJ), com mediação do professor Cláudio Lira da Faculdade de Educação da UFBA.
Dia 19/05: O segundo dia do Congresso foi marcado por mesas que colocaram em pauta as desigualdades brasileiras no contexto da pandemia, além do debate sobre o Ensino à Distância. “Periferia Viva contra o coronavírus”; “Bairros Negros, Racismo e Pandemia do Covid-19”; “Mulheres Negras, Racismo e Saúde”; e “Sistema Prisional, Necropolítica e garantia de direitos no contexto da pandemia” apontaram como a pandemia não atinge a todos igualmente e como são justamente as populações mais vulneráveis que sofrem mais com o avanço do vírus. Os desafios do ensino à distância foram abordados na mesa “EaD, Ensino Híbrido, Redes de Aprendizagem”.
Dia 20/05: a quarta-feira pautou os direitos da população em situação de rua com “Não somos invisíveis: o direito à saúde da população em situação de rua antes, durante e pós Covid-19”; os riscos que passam os trabalhadores e trabalhadoras da saúde no debate “Trabalhadores de saúde no contexto da pandemia” e como o contexto de precarização geral do trabalho impacta no enfrentamento ao vírus, com a mesa “Reforma Trabalhista na América Latina: Brasil e Argentina no enfrentamento à Covid-19”. Outro tema importante foi tratado na mesa “A expansão da divulgação científica na pandemia da covid-19”.
Dia 21/05: aqui, destacamos a mesa “A violência contra mulheres em tempos da pandemia de coronavírus”; “Disputas de narrativa em torno do uso da hidroxicloroquina na Covid-19”; “O papel do grupo tortura nunca mais na defesa dos direitos humanos e da justiça de transição” e “Povos indígenas e desafios frente à Covid-19”.
Dia 22/05: A primeira semana do Congresso encerrou-se com a primeira etapa do debate sobre crise e democracia – “Crise e Democracia I” ; “Os desafios da representação estudantil ante as questões de raça, classe, gênero e sexualidade”; “Desigualdades de gênero e divisão sexual do trabalho: novos desafios em tempos de COVID-19”; e “Democracia e política na plataforma digital: O desafio das fake News”.
Intervenções artísticas
Além das mesas de debate, o Congresso disponibilizou apresentações pré-gravadas de dança, música e teatro, além de exposições de fotografias e colagens. Destacamos a montagem “Pele Negra, Máscaras Brancas”, da Cia de Teatro da UFBA inspirada na obra homônima de Franz Fanon; o espetáculo "O dito, o não dito e o por dizer", que mistura poesia, música e dança para questionar o lugar social de negros e negras e apontar formas de resistência; e as exposições Policromo Cortado de Isadora Sarno - que reinventa digitalmente fotografia, através de sobreposições, recortes e uso de cores vivas – e Rejunte de Sara Duarte, uma série de fotografias que reflete sobre os processos de ruína e reconstrução.
Edição: Elen Carvalho