É chegada a semana santa. Não tem como não lembrar ou não se envolver nas memórias afetivas que esse período traz mesmo para quem não é cristão. Extrapola o calendário litúrgico e está no imaginário da população baiana nas reuniões para o almoço sem carne na sexta-feira, na via crucis ou via sacra, e até no costume dos ovos de chocolate, que mesmo sem relação direta com o significado da Páscoa, movimentam a economia.
Mas, qual é o significado da Páscoa para os cristãos? E como, nesse momento difícil que atravessamos, resgatar esse significado pode nos ajudar?
Segundo Joel Zeferino, pastor da Igreja Batista Nazareth, em Salvador, a Páscoa para os cristãos significa passagem, é uma festa de origem judaica que fazia memória da passagem do povo da escravidão do Egito até chegar à terra prometida e a passagem pelo deserto. “A páscoa evoca esse sentido de passar de um lugar de aflição para um momento de vitória e de superação. Os cristãos entenderam isso a partir da vivência de Jesus na sua última páscoa. A tradição cristã faz com que os eventos centrais da vida de jesus, os mais importantes para a fé cristã, todo o drama relativo a sua prisão, a sua tortura, da sua consequente morte e a experiência da ressurreição sejam colocados na semana da Páscoa. Por isso essa festa teve e ainda tem tanta importância no calendário litúrgico”, ressalta.
Luan Sacramento, da Irmandade do Rosário, no bairro da Ribeira, diz que a Páscoa é um dos momentos mais importantes para a Igreja e que a sexta-feira santa não é um feriado para os católicos, é um dia santo, de jejum, não é dia de ceias fartas, como se costuma ver em muitas casas. “É um dia de profundo silêncio, meditação. No sábado a noite já tem a alegria, porque à noite, os sinos voltam a badalar, e no domingo, que é a ressurreição. A gente crê na ressurreição de Jesus, que venceu a morte e está vivo no meio de todos”, pontua.
Luan nos conta também, sobre como sua comunidade trabalha o tema através do Coral Regina Sacratissimi Rosarii, fundado em 1981 pela professora Teresinha Pierre Bandeira, na Ribeira. “Em 1983, com a ajuda da musicista baiana Odete Vilas Boas, a professora Teresinha compôs essa peça musical e teatral que é o Oratório da Paixão, que narra a história da humanidade, do povo de Deus, desde o cativeiro do Egito, em que Moisés leva todo o povo até a terra prometida, e o novo testamento começa com a entrada de Jesus em Jerusalém, que é celebrado no domingo de Ramos. Depois narra toda a paixão de Jesus, a morte e encerra com a ressurreição. Infelizmente, este ano não pudemos apresentar, por conta da pandemia que está assolando o mundo”, finaliza.
Pastor Joel fala ainda, sobre a importância de resgatar o significado da Páscoa. “É sempre uma lembrança, para os cristãos, contra a deturpação dos sentidos da Páscoa. Nós vivemos em um sistema capitalista onde tudo vira mercadoria, então todos os sentimentos, sejam eles afetivos, patrióticos ou religiosos, são transformados em mercadoria. A ideia é transformar em um objeto que possa ser vendido. É importante resgatar o significado das coisas para que a gente não deixe se esvaziar, não confunda com esses valores mais materialistas, superficiais. Muitas vezes, a gente passa a ser incentivados ao consumo e a superficialidade, esquecendo o sentido mais profundo das coisas reais", pontua.
“Esperamos que seja este sentido, a vitória da vida sobre a morte o maior horizonte de esperança para nós, que a gente não desista dos nossos valores, dos ideais, do amor, da misericórdia, mesmo sob a ameaça da morte. Que não nos amesquinhemos, mas que possamos deixar que o amor prevaleça. Isso obviamente faz com que a gente dê a mão a todas as pessoas, independente de credo, de fé ou não fé, ou qualquer outra diferença que as estruturas sociais possam nos colocar. Que nos faça lembrar do nosso sentido último como humanidade. Espero que esse seja o sentido para todas as pessoas nesses dias da semana santa e da Páscoa cristã”, conclui Joel.
Edição: Elen Carvalho