Já quis praticar algum tipo de dança, mas teve receio de não ser adequada para você? Pode ficar tranquilo e arriscar os primeiros passos: a dança pode ser praticada por pessoas de todos os perfis, além de estar presente em nosso cotidiano, como em festas e ritos. E não existe idade para começar – você só precisa encontrar a modalidade que lhe fizer bem.
Alexandra Costa trabalha com performances em Artes Visuais desde 2010, mas foi recentemente que iniciou sua especialização em dança na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela ressalta a importância do autocuidado que pôde aprender com pessoas que fazem da dança uma profissão: “não é um cuidado estético, é realmente de manutenção, de ter uma consciência corporal”. A artista afirma que não há um corpo “padrão” para dançar, “até mesmo porque as pessoas vão acabar inventando outros movimentos, outras formas que vão calhar com o corpo que elas têm”.
E para quem se acha “duro” ou “desengonçado” demais, ou mesmo que dança é uma espécie de “dom”, não há desculpa. Para Alexandra, “no fundo todo mundo sabe dançar”. Ela considera que todos trazemos “nossa narrativa corporal para várias coisas”: “Se a gente começa a entender que andar é dançar, cozinhar é dançar, correr, pegar ônibus é dançar, eu acho que a gente tira a dança daquele status de que ‘só quem dança é quem estuda dança’, ‘quem está na escola de dança desde ‘x’ anos’”. E completa: “O lance é tirar deste status de que é algo impossível de se chegar”.
Natália Silva, professora de dança formada pela FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia) e estudante da licenciatura em dança na UFBA, dá aula para públicos tão variados como crianças de 2 a 9 anos e idosos, além de ser diretora da companhia de dança “Baile”, em que pesquisa danças na cultura hip-hop. De acordo com ela, a dança ajuda na coordenação motora, equilíbrio e agilidade, melhora aspectos da autoestima e da socialização e, como atividade física, libera endorfina, hormônio ligado à sensação de bem-estar, atuando sobre fatores ligados a quadros de depressão. A professora lembra que a aula de dança pode ser o momento de deixar para lá as preocupações do dia a dia e extravasar, canalizando emoções negativas. Além disso, ensina, a dança age “no processo de conhecer o próprio corpo, entendendo suas limitações, até onde vai, compreender o seu tempo”.
Quanto à ideia de um corpo “ideal” para a prática, Natália vê como fruto de padrões sociais estéticos que precisam ser desconstruídos. Isso acaba se aplicando na dança, pontua, muito em função do ballet clássico e da imagem “daquele corpo magro e flexível”: “O ballet vem da Europa e daquelas mulheres que têm aquele tipo de corpo. E na verdade a dança é, sim, para todos”, destaca. Para ela, independe do estilo que se escolha ou com que se identifique. A diversidade é um ganho: “Nós não somos todos iguais, temos anatomias diferentes, e isso abre possibilidade para outros tipos de pensamento, para outras movimentações, para outros tipos de danças”.
Do ballet e do sapateado ao zouk, da dança do ventre à dança de rua... são várias as opções. Ao pensar nessa escolha, Natália acha importante considerar também de onde veio cada dança e o que elas têm a ver com nossa vida e nossos gostos. Ela acredita que a música se liga à nossa raiz: “Nós temos as danças populares brasileiras, por exemplo, que nasceram relacionadas com o corte de cana, com a natureza, com a coletividade”, diz. “A dança afro, as danças da cultura hip-hop como o break, estão ligadas também ao contexto social e ao resgate da autoestima, mas também ao resgate da ancestralidade de cada um”, conclui.
Edição: Elen Carvalho