Desde 2016, após o golpe de estado que retirou do palácio do planalto uma presidenta legitimamente eleita, já era claro que entraríamos em um momento histórico muito difícil para classe trabalhadora, no qual tentam impor um projeto não escolhido pelo povo. Medidas como congelamento dos gastos sociais (saúde, educação e segurança) por 20 anos, alteração das leis trabalhistas, suprimindo muitos direitos que visavam diminuir a exploração que sofrem xs trabalhadorxs, privatizações e promoção do desmonte e entrega do patrimônio nacional, com destaque para a Petrobras, Caixa Econômica Federal, Correios e outras empresas que são fundamentais para o desenvolvimento econômico social do Brasil.
Diante desse quadro, as forças progressistas, os movimentos sociais e sindicatos denunciam, chamam a população e fazem a luta necessária à impedir que eles consigam concretizar o seu intento. Infelizmente, uma parte da sociedade, ainda, não compreendeu o perigo que nos ronda.
O que surpreendeu a muitos é que esse projeto não só tinha como objetivo retirar direitos dxs trabalhadorxs e desmontar toda uma estrutura voltada para geração de emprego e renda para o povo, com o tempo se revelou muito mais audacioso e, hoje, estamos diante de um governo com fortes características fascistas, onde já é inequívoco o interesse na mudança de Regime, colocando Estado Democrático de Direito, inaugurado com a promulgação da Constituição de 1988, em completo risco.
A submissão do atual governo aos interesses externos e do grande capital tem resultado em um verdadeiro massacre aos direitos do povo brasileiro, retirando, inclusive, em muitos casos, o direito dos jovens em sonhar com uma vida digna, já que o acesso à educação, que sempre foi um problema, tem, agora, as dificuldades aumentadas, colocando cada vez mais longe a possibilidade de ter um emprego que lhes garanta o atendimento das necessidades de um ser humano.
A situação da Petrobras é emblemática: uma empresa de economia mista controlada pela união, que além de ter a tarefa de abastecer o mercado interno dos derivados de petróleo tem, entre outras, a missão de fomentar o desenvolvimento nacional, quando se tem um governo com esse interesse, diferente das ações do atual. A política de privatização, fechamento de unidades operacionais e também utilização de uma política de preços que atrela ao mercado internacional, (bolsas de valores, dólar) os preços dos derivados de petróleo (gás de cozinha, gasolina, diesel e outros), tem ido na contramão dos interesses nacional.
Não tem motivo de pagar em dólar se o custo de produção do nosso petróleo e do seu refino são em reais, salientando, nossos salários, também. Deste modo, essa política de preço adotada pela atual gestão da Petrobras e referendada pelo governo federal impõe a classe trabalhadora que pague preços absurdamente altos para obter esses produtos (gás de cozinha, gasolina, diesel e outros), que se fosse praticado o preço baseado no custo de produção, com certeza, seriam ofertados a população a preços bem menores.
A outra ponta dessa engrenagem, nefasta para a classe trabalhadora é a extinção de postos de trabalhos que são reflexos dessa política, onde as unidades operacionais têm diminuído sua capacidade de carga, motivada pela decisão do governo federal de importar gasolina, diesel e outros produtos que poderiam ser fabricados aqui no Brasil. O resultado dessa determinação governamental é que não se gera empregos e nem renda no Brasil, estimulando criação de empregos no exterior: aqui na Bahia já foram fechadas e/ou privatizadas diversas unidades da Petrobras, como por exemplo a FAFEN, no Polo Petroquímico de Camaçari. Foram quase 800 postos de trabalho extintos.
Com a falsa alegação de não dar lucros mas, sem muita dificuldade, podemos constatar que UO-BA (Unidade Operacional da Bahia), por exemplo, é um negócio de 3,5 bilhões de reais por ano, basta multiplicar a quantidade de barris de petróleo e gás que são produzidos nesses Campos pelo valor do barril comercializado. Esses Campos de Petróleo localizam-se nas regiões de Catu, Candeias, São Sebastião, Alagoinhas, Esplanada, Cardeal da Silva, Pojuca, Mata de São João, Entre Rios, Araças e São Francisco do Conde, importante polo gerador de empregos e respondem por uma parcela importante da economia dessas cidades, já vem, há algum tempo, sendo alvo de tentativa de privatização, fechamento e com isso, também, extinção de centenas de postos de trabalhos. A Sonda 109, de propriedade da Petrobras, paralisou sua atividade em dezembro de 2019, já as sondas de produção, das empresas terceirizadas estão diminuindo suas operações e já temos notícias de que pelo menos mais 600 postos de trabalhos serão suprimidos até final de março de 2020.
O processo de desmonte e privatização em nosso Estado segue acelerado, A RLAM já está em fase avançada de negociação a qual o interessado já fica vinculado e as tratativas bilaterais se aceleram e vão aos termos finais, Transpetro, Termoelétricas, Liquigás, e PBIO devem seguir esse mesmo destino.
O prédio administrativo da Petrobras na Bahia contava, nos últimos meses de 2019, com 3.500 trabalhadores. Segundo os planos da Petrobras, esses trabalhadores serão transferidos para outros estados, ficando apenas alguns, temporariamente, na Bahia. Já os trabalhadores terceirizados, cerca de 2 mil, devem ser demitidos sumariamente.
Em resumo, somente no setor petroleiro, na Bahia, nos últimos seis meses, temos mais de 3.000 demissões de trabalhadores terceirizados e mais de 600 transferências compulsórias, desligamentos de trabalhadores próprios, ou seja uma extinção de mais 3.600 postos de trabalhos no estada Bahia, que seguramente gera forte impacto na vida de milhares de famílias, bem como na economia do nosso Estado.
A classe trabalhadora tem reagido mas, ainda, não do tamanho e grau de indignação capazes de fazer com que o governo recue nos ataques realizados contra o povo que é quem constrói verdadeiramente esse país.
Seguiremos na luta, a exemplo da greve que durou 20 dias, onde trabalhadores petroleiros cruzaram os braços, com muita unidade e organização. Fizemos com que a atual gestão da Petrobras sentasse à mesa para ouvir os trabalhadores e negociar. Para nós está claro que a decisão de demitir 1000 trabalhadores da FAFEN no Paraná faz parte do projeto de entrega do patrimônio nacional e, nós trabalhadores, sim, somos e seremos sempre o empecilho. Não deixaremos e faremos os enfrentamentos necessários pela soberania brasileira, contra as privatizações e desmonte do sistema Petrobras e para o restabelecimento o Estado Democrático de Direito, calcado na dignidade da pessoa humana conforme o legislador constituinte estabeleceu.
*Inspetor de segurança na Petrobras e Coordenador geral no Sindpetro BA.
Edição: Elen Carvalho