Muitas famílias de Candomblé dedicam o mês de agosto para celebrar tradicionalmente o culto a Obalúwàiyé, que é considerado o rei da terra para os povos das religiões de matriz africana. Este orixá também está relacionado com os pedidos de cura de doenças, principalmente as que atingem a pele das pessoas, e algumas de suas celebrações têm a comida, o se alimentar, como principal veículo de cura. No Candomblé, as tradicionais reuniões religiosas, não só o Olubájé, festividade pertencente ao senhor da terra, envolvem a necessidade de estar reunidos e se alimentando diante de um culto ancestral.
Gostaria de chamar a atenção para esta festividade realizada em devoção ao orixá senhor da terra e dos alimentos que nascem dela, sobretudo os grãos. Considero as religiosidades afro-brasileiras como expressões da nossa identidade de povo. As relações sociais e políticas também aparecem nessas diferentes formas de cultuar, em celebrações como o Olubajé. Politicamente estamos vivendo um período de governo difícil no país, de perseguições não só aos movimentos sociais, mas às diversas formas de expressões populares dentro da arte, cultura. E a religiosidade negra, de matriz africana não está deslocada disso.
É visível o avanço das ideias neofacistas, de violência contra negras e negros, mulheres, LGBT e à toda classe trabalhadora. É como uma doença que precisa ser curada, com muita organização popular, porque vem atingindo milhões de trabalhadoras e trabalhadores.
Os sintomas são as notícias do aumento do número de pessoas voltando para a fome e miséria. As constantes matérias que anunciam a oferta das Terras, que deveriam servir para alimentar o povo desse país, mas que tem o agronegócio como o grande senhor. Essas são algumas enfermidades observadas na realidade brasileira, que nos convida a observar como o Olubajé pode nos ensinar, na tradição do sagrado silêncio, neste momento em que precisamos recuar estrategicamente para nos reunir em família e se alimentar para uma defesa ativa: “Aé a je mbo” , “vamos comer e adorá-lo. Comer para se alimentar, para sair da fome e nos curar.
*Otun Elémosó do Ilê Ilé Asé Osogiyan, licenciado em Ciências Sociais
Edição: Elen Carvalho