Há toda uma narrativa sobre agosto ser o mês do desgosto. Talvez porque seja o oitavo mês, marcando ⅔ do ano - as pessoas refletem sobre suas metas anuais inconclusas - ou porque é um mês que não têm feriados. Ou ainda porque seja o mês de volta das férias em muitos locais como escolas e universidades. O fato é que para nós, agosto marca o início de um novo ano do jornal Brasil de Fato Bahia nas ruas e nas mãos dos baianos. Chegamos à edição 13 do jornal, com enormes desafios, assim como toda a população brasileira, que nos últimos anos vem sofrendo as consequências de uma crise econômica, política e ambiental que gerou uma crise social com aumento de índices de pobreza, violência, desemprego e diversas enfermidades.
O povo brasileiro é gerado a partir do conflito, da resistência e luta permanente. Povo gerado a partir da dominação exploração do trabalho dos povos originários indígenas que aqui estavam antes da invasão dos portugueses; dos povos negros africanos trazidos nos navios negreiros e escravizados em situações subumanas; e dos portugueses e imigrantes de outros países trazidos ao longo dos séculos de consolidação do Estado brasileiro. O assalto das riquezas naturais brasileiras também é uma marca que carregamos, com uma economia dependente dos países centrais.
E foi em 12 de agosto de 1798, que se iniciou a Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana, em Salvador. Reunindo amplos setores da sociedade, com ideias da Revolução Francesa, de igualdade, liberdade e fraternidade. Que foi duramente combatida pelas classes dominantes. Os líderes foram enforcados em praça pública e os corpos colocados em partes da cidade de Salvador. João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino Santos Lira e Luís Gonzaga das Virgens e Veiga, líderes da Revolta dos Alfaiates, em 2011 tiveram os nomes escritos no Livro de Aço dos Heróis Nacionais.
Também em 12 de agosto, só que de 1983, foi assassinada a líder camponesa Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande – PB, a mando de latifundiários que sentindo-se o dono da terra, tirou a vida de uma mulher que lutava contra a violência no campo, por direitos trabalhistas e por uma vida digna para os trabalhadores rurais.
É importante resgatar na memória coletiva as lutas, nossos heróis e heroínas e o fato de que a população brasileira nunca foi passiva aos mandos e desmandos das elites. Luta para nós é uma necessidade, não uma escolha. E é essa mensagem que o mês de agosto e seus acontecimentos deixam para nós.
Agosto está longe de ser mês de desgosto. É um mês de luta. Que venha mais um ano para o Brasil de Fato Bahia, que continuemos caminhando para consolidar um jornal com a cara do povo baiano, que carregue suas identidades, anseios e lutas.
Edição: Elen Carvalho