Bahia

COMEMORAÇÃO

Salvador completa 470 anos 

Rica cultura e histórias de resistência marcam a trajetória da capital baiana

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Salvador é conhecida pela cultura, música, capoeira, gastronomia, belas praias, festas populares e alegria da população
Salvador é conhecida pela cultura, música, capoeira, gastronomia, belas praias, festas populares e alegria da população - Matheus Alves

Primeira capital do Brasil, Salvador, completa 470 anos em 29 de março deste ano. Fundada em 1549 por Thomé de Souza, então governador do país, com o nome “São Salvador da Bahia de Todos os Santos”, a cidade é conhecida internacionalmente pela rica cultura, música, capoeira, gastronomia, beleza de suas praias, suas festas populares e seu povo alegre e receptivo. Quem nunca ouviu, ao andar pelas ruas da cidade, expressões carregadas de movimentos corporais que falam mais que mil palavras? “Barril”, “oxe”, “se saia”, “qual foi?”; de braços abertos e entonação que só se veem por aqui. 

Alegria, um sotaque de quem fala “cantando”, um canto de luta e resistência seculares, o gingado necessário na dança da vida corrida de quem madruga para trabalhar, enfrenta a espera nos pontos de ônibus, o trânsito complicado, a cidade “derreter” quando chove forte por mais de dez minutos.  

Fazer festa e “graça” com tudo é uma marca do povo soteropolitano, é a forma de lidar com uma vida de trabalho árduo e desigualdades existentes. Salvador é a cidade mais negra fora da África, 82% de sua população se autodeclara negra segundo o IBGE, mas, tem um déficit habitacional de 106.415 moradias, segundo a Fundação José Pinheiro, e convive com uma população em situação de rua que ultrapassa o número de 17 mil pessoas, em Pesquisa realizada pelo Projeto Axé, UFBA e Movimento Nacional de População de Rua em 2017. Mais de 90% das pessoas nessa situação são negras.

Apesar de Salvador ser um destino turístico bastante procurado no verão, carrega inúmeras contradições que, ao conversamos com moradores da cidade, é possível identificar. Sandro Sussuarana, poeta e produtor do Sarau da Onça, morador do bairro de Sussuarana, diz que são as praias o que mais gosta em Salvador, em especial a praia da Sereia de Itapuã, embora também ache as do subúrbio lindas. Sobre o que não gosta, ele aponta a mobilidade. “A mobilidade dessa cidade é uma loucura principalmente agora com o metrô, mas já não gostava antes, porque os bairros periféricos não têm estrutura para o fluxo de carros que eles recebem”, pontua. Sandro acredita que para ter uma cidade melhor, é necessário que haja mais politicas públicas de inclusão e de combate ao racismo.

Ubiracy Viana Coutinho, Dona Bibi, moradora do São Caetano, diz que o que mais gosta na cidade é a vista da Baía de Todos os Santos. E o que menos gosta é da falta de segurança. “Para ter uma cidade melhor é preciso melhorar a segurança e o acesso às ruas. Gostaria que olhassem para os bairros menos favorecidos”, sinaliza.

Segundo Yuri Silva, Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), uma Salvador igualitária e inclusiva para pretas e pretos seria uma cidade onde fosse possível ocupar espaços que hoje somente a elite branca acessa, mostrando que há resquícios da escravidão na sociedade.  “Queremos negros na prefeitura de Salvador, como prefeitos e secretários, no governo da Bahia, como governador do estado, vice-governador, etc; queremos negros ocupando postos no Judiciário, no Legislativo, nos espaços que historicamente os brancos tomaram de nós”, aponta.

Yuri ressalta que, como a desigualdade racial é o que estrutura as relações socioeconômicas no país, não o surpreende o fato de que as pessoas negras, mesmo sendo maioria em Salvador, vivam nas piores condições. “O que é inaceitável é que isso se mantenha ainda hoje. Só com muita luta vamos mudar esse panorama. E lutar significa conversar, organizar as pessoas em torno de suas demandas, formar elas sobre a questão racial, para que elas entendam que, para além de suas importantes demandas, há uma luta maior de emancipação de um povo inteiro”, finaliza. 
 

Edição: Elen Carvalho