No último dia 28 de outubro o povo brasileiro foi às urnas fazer a escolha do próximo Presidente da República. A disputa eleitoral entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) foi marcada pela polarização de dois projetos para o país. De um lado, Haddad trouxe um plano de governo baseado nos direitos dos trabalhadores, garantia da educação e saúde públicas, fortalecimento das empresas estatais, combate às desigualdades sociais, de gênero e racial e geração de emprego. Do outro lado, Bolsonaro propunha o combate à corrupção e aumento da segurança pública, mas com ausência de iniciativas em todas as outras áreas fundamentais para a população. Infelizmente, o vencedor nas urnas foi o projeto de Jair.
Durante o segundo turno, assistimos a denúncia de agressões motivadas pelo discurso de ódio contra as pessoas que defendiam a candidatura de Haddad, mulheres, negros e LGBT. Em Salvador, na madrugada do dia oito de outubro, o Mestre de capoeira Moa do Katendê foi assassinado em um bar por um eleitor de Bolsonaro, após se posicionar em defesa de Fernando Haddad. O autor do crime desconhecia o legado cultural de Moa, o afoxé Badauê e a importância dele para a preservação da memória de resistência e luta dos negros.
No mês da consciência negra, afirmar “Moa Vive!” é afirmar que esse povo está atento para resguardar sua memória. Esse povo que resiste desde que foi trazido escravizado de África nos navios negreiros, que foi explorado e açoitado por mais de três séculos, mas que contribuiu muito na edificação da sociedade brasileira.
Povo que resistiu a uma abolição feita apenas no papel, que teve de lidar com a criminalização da capoeira, dos batuques em locais públicos, e de exercer a religião; que resistiu a uma elite brasileira que sempre esteve no poder, submissa aos interesses internacionais e incapaz de ter um projeto de vida digna para os trabalhadores.
A desigualdade social e racial, a precarização das condições de trabalho, as diferenças de remuneração com mesmo grau de escolaridade, o grande número de negros assassinados versus diminuição no caso de pessoas não negras, mostra que ainda há muito para ser feito, já que a primeira luta é para se manter vivo ao fim do dia.
O povo negro nunca aceitou passivamente o açoite e as péssimas condições de vida. Fugiu das senzalas, criou quilombos e realizou revoltas. Tudo isso em defesa da liberdade e igualdade! Ao longo dos séculos, se organizou em terreiros, em grupos de capoeira, afoxés, blocos afros, movimentos sociais do campo e da cidade. Manter seus costumes a partir da dança, dos tambores, das vestes, da culinária e do sorriso é uma forte característica. O poeta Sérgio Vaz diz que “sorrir enquanto luta é uma forma de confundir os inimigos”. E, sem dúvidas, será com dança, percussão, canto, amor, fé, resistência e luta que vamos enfrentar o próximo período, de um governo que já deu sinais de ser intolerante com a diversidade. Não se pode prever o futuro, mas é certo que esse povo vai quebrar as correntes do mal e construir a alvorada do dia em que não será necessário mais lutar, pois haverá um país justo, onde todos e todas serão iguais.
Edição: Elen Carvalho