Na noite da última terça-feira (23), o Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Pelourinho, em Salvador - BA, recebeu o lançamento do documentário “Mestre Moa do Katendê: a primeira vítima”. Dirigido por Carlos Pronzato e produzido por Paulo Magalhães, ele traz depoimentos de mais de mais de 30 pessoas, entre familiares, membros do movimento negro e do cenário cultural afro-baiano, além de imagens de atos e cenas de arquivo de Romualdo Rosário da Costa, o Mestre Moa, capoeirista, compositor, educador e ativista cultural negro.
O filme de 46 minutos é uma produção independente, que apresenta a trajetória do Mestre Moa na capoeira e afoxé, e tem como objetivo celebrar sua memória, seu legado e realizações, bem como denunciar seu assassinato estimulado pelo discurso de ódio e intolerância no contexto político brasileiro.
Moa foi assassinado por um eleitor do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), na madrugada do dia oito de outubro, em um bar no Dique Pequeno, local onde nasceu e viveu, após ter revelado seu voto em Fernando Haddad (PT) e criticado Bolsonaro.
O diretor do documentário, Carlos Pronzato, ressalta que o lançamento do documentário no Pelourinho, um espaço simbólico, representou um ato político de resistência. “Foi importante porque engrossa o caldo da resistência nesse momento que estamos vivendo, que é trágico e que pode ser muito mais se a gente não levantar a voz. A morte do Mestre Moa nos coloca numa situação onde não podemos fraquejar, no momento onde de algum lugar ele nos diz: Vamos à luta”, conclui.
Samonali Costa, filha do Mestre, que começou a aprender capoeira, dança afro e afoxé com o pai desde os sete anos de idade, diz o quanto ainda é difícil acreditar no que aconteceu. “Esse documentário que foi mostrado aqui hoje é uma emoção muito forte. É difícil acreditar, não era para ter acontecido, o chão se abriu. Para mim, meu pai está viajando, fazendo o trabalho afro, de música, percussão dele fora. Difícil acreditar que perdi painho”, pontua.
Samonali fala ainda que Moa deixou um legado e que vai ser dada continuidade ao trabalho. “Ele estava com aquele sonho para realizar, que era a sede que estava para construção. Agora vamos terminar para fazermos aula de percussão, caxixi, atabaque, berimbau, capoeira, dança, colares. Eu tenho muito a agradecer a ele, meu pai, Mestre Moa do Katende, meu Mestre”, finaliza.
Segundo o pesquisador Chicco Assis, não há dimensão do que se leva de bagagem cultural com a morte do Mestre Moa. “Ele teve uma contribuição muito grande para toda essa construção do que a gente tem hoje dos afoxés, da capoeira, e uma difusão disso para o mundo. Um documentário como esse, que traz a tona uma boa parte do legado que Mestre Moa construiu, e que também traz a denúncia desse assassinato por questões dessa violência que tem sido disseminada, é muito significativo para a cultura afro-brasileira”, pontua.
Créditos do documentário: Brasil, 2018, 46 min. Direção, Roteiro e Montagem: Carlos Pronzato. Produção: Paulo Magalhães. Câmera: Carlos Pronzato e Edmilson Barbosa. Edição: Diogo Lula. Direção de Produção: Edmilson Barbosa.
Onde encontrar: Mestre Moa do Katendê - A primeira vítima
Homenagens a Mestre Moa no Brasil e no Mundo
Desde o dia de seu assassinato, diversos atos foram realizados em Salvador e outros estados do Brasil, além de países como Alemanha e Noruega, afirmando a importância dele para a cultura afro-brasileira. No último dia 17, o cantor Roger Waters, em turnê pelo Brasil, fez uma homenagem a Moa, em show realizado na Arena Fonte Nova, em Salvador.
Na manhã do último domingo (21), no Engenho Velho de Brotas, bairro onde nasceu e viveu o mestre de capoeira e fundador do bloco de afoxé Badauê, aconteceu uma série de homenagens. Iniciando com missa na Paróquia Deus Menino, seguido de caminhada pelo bairro, fixação de placa e ação de grafite na parede do bar onde Moa estava quando foi assassinado.
Edição: Elen Carvalho