No último dia 10 de abril ocorreu uma Audiência Pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado brasileiro que discutiu a determinação da Petrobras de fechar as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN) na Bahia e em Sergipe. Participaram da audiência organismos importantes do setor, dos governos e sindicatos.
Na ocasião, alertei para o risco alimentar futuro com o desabastecimento da ureia pecuária no país, já que a Petrobras é a única fabricante do produto. É preocupante que a Petrobras e, portanto, o Brasil, deixe de fornecer esse insumo para a pecuária, que não é substituível.
O Presidente da Comissão de Pecuária da FAEG e da Associação Novilho Precoce e membro da Comissão Nacional de Pecuária, Mauricio Veloso, também fez duras críticas à iniciativa da Petrobras. Segundo ele, o fechamento das fábricas implicará no desabastecimento de ureia pecuária no país e, em substituição a essa ureia, poderá haver fornecimento de ureia fertilizante que contém formaldeído, substância conhecidamente como cancerígena.
A fábricas de fertilizantes produzem uma ureia especial chamada REFORCE N, que é um aditivo alimentar para ruminantes (bovinos, caprinos, ovinos e bubalinos). Ela não pode conter aditivos químicos como a ureia fertilizante, já que é usada exclusiva e diretamente para a suplementação animal. E o uso de aditivos na ração animal pode afetar a saúde humana.
Devido a especificações técnicas do REFORCE-N, a importação deste produto seria muito difícil e o custo inviabilizaria a produção do suplemento animal no Brasil. Com o fechamento dos fabricantes nacionais desta ureia (FAFEN`s) pode ser entregue no mercado interno suplemento com formaldeído pela adição de outro tipo de ureia, já que não existe controle sobre a qualidade e composição da ureia importada.
FAFENs e o PIB brasileiro
O Brasil é o maior exportador mundial de carne. Entrega ao mundo carne in natura, processada, miúdos, tripas e carnes salgadas. Dados da ABIEQ contabilizam a exportação de 1,53 milhão de toneladas de carne em 2017, gerando um faturamento de U$ 6,28 bilhões. A carne brasileira foi vendida a 137 países no ano passado, sendo que Hong Kong, China, Irã e Egito consumiram, no total, 906 mil toneladas.
O sucesso na produção pecuária brasileira só é possível porque a indústria de ração e suplementos minerais para o gado e outros ruminantes utiliza o REFORCE N produzido pelas FAFEN`s na engorda do ruminante. Segundo dados da ASBRAM, foram utilizadas 250 mil toneladas de ureia pecuária em 2017.
A decisão de fechar as FAFENs deve desempregar 1,6 milhão de trabalhadores de frigoríficos e fazendas, aumentando a crise pela qual o Brasil passa. Os processos produtivos pecuários brasileiros ficarão à mercê de uma ureia de origem duvidosa pelas conhecidas dificuldades de importação da verdadeira ureia pecuária transferindo riscos à segurança alimentar no consumo da carne, leite e derivados.
Por conseguinte, o Brasil pode perder um mercado externo no setor de U$ 6,2 bilhões ao ano, já que os países importadores perderão a confiança na carne brasileira pelo risco de contaminação com formaldeído, bem como por nitrato de amônio e cloreto de potássio.
Desse modo, é necessário que o governo federal se manifeste imediatamente à sociedade brasileira e aos países importadores dos nossos produtos pecuários acerca do risco de desabastecimento que deve ocorrer a partir de 30 de outubro de 2018, quando está previsto o fechamento das unidades fabricantes de ureia pecuária.
*Diretor do SINDIPETRO BAHIA
Edição: Elen Carvalho